Já falei do tempo e do modo como se faz um maçon. É agora altura de falar do lugar.
Parecerá óbvio dizer que, para um maçon se fazer e crescer, o lugar próprio e indispensável é a Loja. Só comparecendo em Loja, só participando nas reuniões desta, o maçon reúne o acervo de informações de que necessita. Note-se que – já muitas vezes aqui o referi – o processo de construção do maçon, do seu templo interior, não é passível de ser ensinado. Tem que ser apreendido pelo próprio e assim por ele aprendido. Através do contacto com seus Irmãos; mediante a execução e progressiva familiarização com o ritual e consequente aquisição, compreensão e interiorização das lições e princípios morais que o mesmo encerra; pela observação dos variados símbolos em que o espaço da Loja é fértil e progressiva compreensão do significado de cada um, individualmente adquirida; com a interiorização de tudo o que o impressiona e consequente transformação pela integração no seu eu do resultado dela; porque o processo de formação de um maçon, mais do que uma aprendizagem clássica, é o resultado de um acumular perceptivo, tão direccionado à Emoção como à Razão.
Mas será porventura menos óbvia a afirmação que inicia o parágrafo anterior, se se atentar que logo a frase seguinte aplica dois sentidos diferentes de Loja: Loja enquanto espaço físico de reunião de maçons, como sinónimo de Templo ou, talvez melhor, do local onde fisicamente as reuniões maçónicas se efectuam; Loja enquanto conjunto de maçons agrupados na unidade básica e essencial da Maçonaria. Direccionada a nossa atenção para esta dicotomia, será possível atentar, então, na menos evidente noção de que o lugar de formação de um maçon é tanto o lugar de reunião dos maçons como o acto de estar entre e com os seus Irmãos. Não apenas por com eles estar; não só por com eles conviver; mas por ser no meio deles e com eles que obtém e afina as ferramentas que moldarão e aperfeiçoarão o seu carácter, permitindo que venha a efectivamente construir-se maçon.
Por outro lado, deve-se ter ainda presente que a Loja espaço físico simboliza todo o Universo (um dia destes desenvolverei este conceito) e a Loja grupo de maçons simboliza a Sociedade que se pretende ideal. Então trabalhar no espaço físico da Loja deve ser tido como símbolo de trabalhar no espaço de todo o Universo. Ou seja, o maçon constrói-se no espaço físico da Loja mas, na medida em que esse espaço físico da Loja simboliza todo o Universo, o maçon em construção deve apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, deve ocorrer em todo e qualquer local onde se encontre. E, na medida em que a Loja grupo de maçons simboliza a ideal Sociedade em construção, o maçon constrói-se no contacto e mergulhado no grupo de seus Irmãos mas deve também apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, é um esforço e um acto e um desígnio que constantemente deve efectuar, realizar, prosseguir, esteja junto de quem esteja, maçon ou profano.
Concluindo: o trabalho de construção de um maçon começa e decorre necessariamente em Loja e com a Loja. Mas prossegue e afirma-se, também necessariamente, no local e junto de quem a Loja, em ambas as suas noções, simboliza, isto é, em todo e qualquer lugar onde se encontre o maçon, junto de toda e qualquer pessoa com quem o maçon interaja.
Do lugar restrito e a coberto dos profanos para todos os lugares; de entre seus Irmãos, assegurando-se que o são pelos modos de reconhecimento que são próprios dos maçons, para junto de toda e qualquer pessoa, maçon ou profano, justo ou pecador. Porque o lugar onde se faz um maçon é um ponto de partida e logo um percurso. Com um único lugar de chegada, definido por uma hora, a da sua meia-noite. Nesse lugar, do recôndito ao imenso, nesse percurso, o maçon deve prosseguir sempre e incansavelmente seu trabalho de se fazer maçon – sem direito a horas extraordinárias nem a subsídio de deslocação…
In Blog “A Partir Pedra” – texto de Rui Bandeira (01.07.08)
Fonte: freemason.pt
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