Na Maçonaria Ancestral Universal e Arcana a aprendizagem e instrução é essencialmente feita por “Três” vias:
- As lendas como alegorias de significado múltiplo.
- Os símbolos e o seu despertar.
- A interiorização das Lendas e dos símbolos.
Ou seja, o maçom que verdadeiramente pretenda atingir os ensinamentos esotéricos da Ordem têm de absorver estas três vias.
A Lenda
O que distingue a lenda da narrativa histórica? A lenda difere de uma narrativa histórica pelo facto de não ter documentação que evidencie a sua autenticidade, deriva somente da tradição oral e como tal é lendária. A veracidade das lendas maçónicas não é relevante, nem é necessário o seu rigor cronológico. Como no caso da explicação do Anno Lucis, em que é um absurdo partir do princípio de que o mundo foi criado sensivelmente 4000 anos de Cristo, segundo apurou, no século XVIII, o Arcebispo Anglicano James Usher, contudo a ideia por detrás da abordagem, essa sim, é relevante.
As lendas maçónicas são um dos métodos pelo qual a instrução esotérica é transmitida e o seu objectivo não é estabelecer factos históricos, mas transmitir a doutrina filosófica. O que importa é o seu significado interno, a expressão de uma ideia filosófica. Elas mostram-nos as fraquezas e as virtudes humanas, dão-nos lições, mas também avisos. A escolha é múltipla, entre as mais conhecidas a Lenda de Hiram, a Lenda de Enoch, a Lenda de Salomão, a Lenda dos construtores do templo, entre outras. Especialmente a Lenda de Hiram, cobre o maçom com uma aura própria e eterna. Uma vez apreendido o legado das lendas maçónicas, o maçom poderia passar a ser simbolizado por Atlas, um dos titãs condenado por Zeus a sustentar os céus para sempre, dado que a responsabilidade e o compromisso passarão a ser avassaladores.
Eis a força da lenda em toda a sua dimensão, que se torna por vezes paradoxal, já que, se por um lado nos afasta das trevas ao dar mais luz ao espírito, acaba também por ser um novo acordo que nos compele a actuar em conformidade com os seus ditames, o que nem sempre é fácil, nem executado. Assim se torna indispensável a virtude da humildade, pois só sendo detentores dela nos podemos abrir de forma genuína a mente e o coração ao seu estudo. Os porta-estandartes terão sempre as mãos demasiado ocupadas para fazer outra coisa senão segurar o estandarte. A vaidade sobrepõe se a lenda. E de facto, nas tradições e lendas da maçonaria que encontraremos profundas instruções morais e filosóficas.
O Símbolo
Nenhuma ciência é mais antiga que a do simbolismo. Houve um tempo em que praticamente toda a transmissão de conhecimento estava concentrada nos símbolos. A maçonaria mantém-se fiel a este método da antiguidade e preservou a sua função primitiva de transmissão de conhecimento. A derivação do grego da palavra símbolo significa comparar uma coisa com a outra. O símbolo é a expressão visível de uma ideia que foi derivada da comparação ou contraste de um objecto com um conceito moral ou atributo. Poderá mesmo dizer se que na maçonaria tudo é símbolo. Todas as ferramentas de trabalho utilizadas 1/5 pelos maçons operativos carregam em si uma tendência moral ou filosófica na maçonaria especulativa. E a riqueza da dos mesmos é que eles não têm significados dogmáticos antes pelo contrário, eles podem ter significados diferentes para maçons diferentes. Os símbolos não podem ser compactados ao simples “Este símbolo significa isto…”, seria demasiado reducionista.
Embora exista um significado geral para símbolos específicos, eles exigem um estudo pessoal aprofundado, não se deve tomar as definições por dado adquirido, mas sim compreender o porquê. No fundo tira-se a prova dos nove, que nos conduzira ou não as mesmas conclusões. Daí o potencial da ordem ser tao vasto e acima de tudo dinâmico. Os símbolos são especiais porque são um meio poderoso de conter os mais variados significados, sentimentos e ideias. Mas por mais poderosos que sejam no terão qualquer significado se fora da mente do individuo que os observa e compreende. Casos houve em que o significado do símbolo foi perdido, e ainda hoje se tenta reencontrá-lo. O símbolo funciona como um cofre dentro de um cofre, em que cada um revela algo novo, mas contém outro que oculta mais um pedaço de informação. Nem sempre temos as combinações para abrir os cofres todos e deste modo diferentes maçons poderão descobrir um número diferente de combinações. O Templo de Salomão é talvez o mais presente e mais proeminente cofre simbólico da maçonaria, estabelece a ligação entre a maçonaria operativa e especulativa.
A Lenda e o Símbolo
Assim, o símbolo é a parte visível e a lenda a parte audível da representação de um contraste, de uma ideia, de uma concepção moral. Poderá também definir-se o símbolo como sendo a representação material e a lenda a representação mental da verdade. A lenda serve-se do símbolo e o símbolo da lenda, vejamos o Santo Graal. A busca do Graal representa a aventura espiritual da regeneração, o cavaleiro parte na sua busca e inicia uma etapa da qual no sairá a mesma pessoa.
Uma transformação tem lugar fruto das provas, obstáculos, privações e recompensas que o cavaleiro enfrenta. Estudar as nossas lendas e os nossos símbolos é como resolver um enigma, um puzzle, há pistas, contudo, temos de ser nos a desvendar o mistério e compreendê-lo, direi mesmo interiorizá-lo. Assim, investigar o significado oculto destas lendas, destes símbolos e deles extrair as lições morais e filosóficas que pretendem transmitir, é levantar o véu com que a ignorância e a indiferença tentam ocultar a verdadeira filosofia maçónica. O seu estudo a única maneira de assimilar a sabedoria maçónica. são o portal do seu templo.
O ritual é símbolo e é lenda, a aura deste triunvirato uma presença constante, mesmo quando absorvida inconscientemente. A cerimónia não é a substância, mas a embalagem que a adorna. Gostaria de neste ponto relembrar que os rituais maçónicos não são nem pretendem ser a palavra revelada do G∴ A∴ D∴ U∴. A maçonaria foi criada por homens imperfeitos, que buscavam aperfeiçoar-se, para homens imperfeitos que desejem partilhar essa via.
Adaptando um desafio do filosofo Baruch Spinoza (1632 – 1677), à maçonaria em geral, mas também, ao estudo e analise das lendas e símbolos em particular, cito:
“Dizes ter escolhido uma ideia porque ela é a certa. Contudo fica a saber que tu acreditas que ela está certa precisamente porque foi a que escolheste.”
Qualquer maçom pode retirar “ideias” do seu estudo ou vivencia maçónica, e essa escolha e individual e pessoal, e o desafio de Spinoza permite reforçar o ideal não dogmático da nossa ordem.
Pergunto “deve” e não “pode”, notem, deve um indivíduo ter percorrido os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre e mesmo assim estar completamente desfamiliarizado com a simbólica e as lendas dos graus?
Existe um universo de verdade no simbolismo e nas lendas do qual nunca ouvi falar, do qual não atingi toda a dimensão da mensagem nele contida. Quero dizer com isto que a demanda é continua e o percurso tão importante como a meta. O Graal não vai em busca do cavaleiro, mas sempre o cavaleiro em busca do Graal.
“Nós não sabemos algo porque nos o dizem. Deixem os Deuses, para sempre, aclamar a verdade de todas as eras nos ouvidos de um tolo e mesmo assim para sempre o tolo ficará unido a sua tolice.”
Eis a verdadeira concepção e princípio de todas as iniciações, o conhecimento é mais do que a mera soma ou adição de conceitos, mas uma transformação progressiva da estrutura inicial, ela não pode ser apenas soprada no ouvido.
Eis o desafio que a maçonaria, que tanto tem para ensinar, nos propõe: Alimentar a insaciável vontade de apreender, estudar e investigar. É preciso deitar a mão a obra porque o templo não se constrói sozinho.
Concluo com uma oração de São Tomás de Aquino
Dá-me Senhor, agudeza para entender capacidade para reter, método e faculdade para aprender, subtileza para interpretar, graça e abundância para falar.
Dá-me Senhor, acerto ao comentar, direcção ao progredir, e perfeição ao concluir.
Nelson Rodrigues da Costa M∴ M∴
Fonte: freemason.pt
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