Este é o primeiro artigo da série “Tesouros Maçónicos”. Nesta apresentaremos alguns objectos raros, únicos e curiosos, bem como a importância histórico-simbólica destes para a Maçonaria. São verdadeiros tesouros da Ordem, espalhados por diversos museus brasileiros. Com o objectivo de divulgar e valorizar tais acervos, esta série pretende, ademais, proporcionar a todos os maçons e estudiosos da Arte Real um retorno ao passado, às histórias relacionadas aos objectos e um sentimento identitário ligado ao património histórico maçónico.
Assim, abrimos esta série de artigos apresentando os objectos maçónicos associados a D. Pedro I e que pertencem ao acervo do Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro.
Vida maçónica de D. Pedro I
Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Gabriel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon (Queluz, Portugal, 1798 – Queluz, 1834), o Imperador do Brasil D. Pedro I, foi iniciado na Maçonaria aos 24 anos de idade na Loja Comércio e Artes, adoptando o nome heróico de Guatimozin [1]. Tendo como padrinho José Bonifácio, a sua iniciação ocorreu no dia 2 de Agosto de 1822 na Loja Comércio e Artes nº 1. Já em 5 de Agosto, o primeiro Imperador do Brasil foi exaltado ao Grau de Mestre Maçom.
A despeito da sua rápida passagem pela Maçonaria, a qual ordena a suspensão de todos os trabalhos em 21 de Outubro de 1822, o Imperador e Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil atingiu o grau máximo do Rito Moderno, que a época era o Grau 7 – Cavaleiro Rosa-Cruz. Em alguns arquivos históricos é possível encontrar, inclusive, algumas cartas direccionadas a maçons, as quais eram assinadas com as iniciais “I∴P∴M∴R∴ +”, que significa: Irmão Pedro, Maçom Rosa-Cruz.
Os objectos e suas relações
Desse modo, passemos para a descrição dos objectos relacionados a D. Pedro I e que se encontram no Museu Histórico Nacional. Doados pela Viscondessa de Cavalcanti em 15 de Novembro de 1927, avental, faixa e malhete foram citados num bilhete (imagem 1) escrito a próprio punho pela doadora como tendo pertencido a D. Pedro I. É o único documento que relaciona tais objectos ao Imperador. Assim, não se pode confirmar ou descartar que tais objectos tenham realmente pertencidos ao 2º Grão-Mestre do GOB.

Contudo, uma análise iconográfica dos objectos pode trazer alguns indícios interessantes em relação a este facto. A princípio, tem-se a faixa maçónica (imagem 2), confeccionada em seda e fios de ouro, esta apresenta a águia bicéfala coroada, com espada nas garras e um delta luminoso, símbolos que compõem o emblema do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito.

O avental (imagem 3) manufacturado em seda e veludo apresenta, bordado na abeta, um delta luminoso; abaixo, ostenta um pelicano alimentando os seus filhotes encimado por uma cruz com a rosa mística ao centro, ladeado por símbolos e palavras do grau. Portando, possivelmente um avental do Grau 7 – Cavaleiro Rosa-Cruz do Rito Moderno. Já o malhete (Imagem 4), fabricado em bronze dourado, apresenta as iniciais: “P. 1º.” gravadas em relevo.

Há também no acervo um gládio maçónico com a respectiva bainha. Este, cuja lâmina e punho foram trabalhados em metal dourado e filigrana, tem gravado no punho um cinzel e malho cruzados, e um triângulo com o número 33 ao centro em relevo.

Assim, numa análise inicial embasada nas características dos objectos descritas acima, podemos concluir que talvez apenas o avental e o malhete tenham, de facto, pertencidos a D. Pedro I, devido ao primeiro ser correspondente a um grau ostentado pelo Imperador, e o segundo por apresentar gravada as suas iniciais.
Os outros dois objectos, faixa e gládio, provavelmente não tenham feito parte de sua vida maçónica. São itens relacionados ao último grau do Rito Escocês Antigo e Aceito. Como se sabe, este rito foi trabalhado no Brasil apenas a partir do idos de 1829 pela Loja Educação e Moral, a primeira a praticá-lo. Também foi somente em 1832 que Francisco Gê Acayaba de Montezuma fundou o Supremo Conselho para o Império do Brasil, do Rito Escocês Antigo e Aceito. Neste período, D. Pedro I, já prestes a voltar para Portugal, há muito tempo estava afastado da Maçonaria. Contudo, não descartando totalmente o seu pertencimento ao Imperador, uma hipótese possível para relacionar tais objectos com ele seria a sua recepção como presente ou recordação por parte de algum Maçom. Todavia o seu uso em loja, talvez nunca tenha ocorrido.
Raniel Fernandes – Museólogo do Museu Maçónico Ariovaldo Vulcano
Fonte:
- Grande Oriente do Brasil
Notas
[1] Nome do último imperador asteca de Anahuac que resistiu bravamente a incursão dos espanhóis comandados por Cortés, na procura dos tesouros e ouro asteca, mas que por fim foi torturado e morto pelos invasores.
Referências consultadas
- Gustavo Barroso. O Imperador e a Maçonaria. Revista O Cruzeiro, Dezembro de 1955. Biblioteca Virtual do Museu Histórico Nacional.
- Isa Ch’an. Achegas para a história da Maçonaria no Brasil. Volume I,1968.
- José Castellani. História do Grande Oriente do Brasil: a Maçonaria na história do Brasil. 2009.
- Kurt Prober. Dom Pedro, Príncipe Regente. Catálogo dos selos de maçons brasileiros. 1984.
- Maria Laura Ribeiro. Pedro I e a Maçonaria. Anais do Museu Histórico Nacional. Volume VIII, 1972.
Fonte das imagens:
- Imagem 1: Processo de entrada de acervo nº04/28. Biblioteca Virtual do Museu Histórico Nacional.
- Imagem 2: Reprodução da fotografia de Jaime Acioli no Catálogo da Exposição: As Constituições Brasileiras. Brasília – FAAP, 2007.
- Imagem 3: Reprodução da fotografia de Jaime Acioli no Catálogo da Exposição: As Constituições Brasileiras. Brasília – FAAP, 2007.
- Imagem 4: Reprodução da fotografia de Jaime Acioli no Catálogo da Exposição: As Constituições Brasileiras.
Fonte: freemason.pt
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