Significado é aquilo que um signo quer dizer quando um objecto ou acção são usados como referência a alguém ou algo.
Por exemplo: na iconografia cristã a figura de um cordeiro refere-se à pessoa de Jesus Cristo (o “Cordeiro de Deus” ou “Cordeiro Pascal”); a figura de uma pomba remete para o Espírito Santo.
Mas estas representações simbólicas não significam que as religiões cristãs prestem culto às figuras de animais. São formas de expressão simbólicas ou alegóricas, como queiram. No Direito, a Justiça é representada pela figura de uma mulher de olhos vendados, portando uma balança e uma espada. Mas ninguém imaginaria encontrar, andando pelos corredores do tribunal, uma mulher vestida à moda greco-romana e trazendo consigo estes objectos.
O SIGNIFICANTE é de maior alcance e abrangência. Consiste na impressão psíquica deixada por um signo, por alguém ou por alguma coisa [1].
O conjunto de procedimentos ligados à ritualística e ao simbolismo – seja na Maçonaria ou noutras Ordens iniciáticas – está alicerçado no SIGNIFICANTE – isto é: quando o iniciado faz “contacto” com um objecto ou acção, uma impressão permanece gravada na sua psique, despertando questionamentos, interrogação e REFLEXÃO. Essa impressão motivará, no decorrer do tempo, uma série de relações lógicas ou causais assim como nexos de coerência transcendental [2], para além dos limites do significado.
Quando o Aprendiz contempla o compasso identificará, de imediato, um instrumento composto por duas hastes unidas por um eixo e articuladas na parte superior, usado para tomar medidas e traçar circunferências. Trata-se do conceito comum acessível a quaisquer níveis de escolaridade. Mas o Aprendiz sabe, desde o início, que aquele objecto não está no Templo, ou faz parte da liturgia, para que os maçons fiquem, o tempo todo e o resto das suas vidas, literalmente traçando circunferências e tomando medidas. No decorrer das instruções, alguém lhe dirá que:
“… o compasso representa a medida justa que preside às nossas acções, assim como as relações de cada Maçom com todos os seus Irmãos e demais seres”…
… contudo, as instruções param por aí, no significado; alcançar o SIGNIFICANTE depende da esfera espiritual ou psíquica do iniciado.
O compasso (assim como qualquer outro símbolo, palavra e gesto do ritual) só tem valor quando o iniciado elabora, POR SI MESMO, o signo e a relação lógica ou analógica que ocorre entre o SIGNIFICADO e o SIGNIFICANTE.
Basta uma pergunta, como desafio, para testemunharmos a carência a que estamos expostos:
– Sendo a Maçonaria um sistema de Moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos, o que repercute, ensina, educa ou edifica, o facto de o Compasso ser aberto em 60º com as pontas voltadas para o Ocidente?
O nosso Século caracteriza-se pela prostração e ociosidade. A internet e as aplicações para telefones móveis viciaram a inteligência a se contentar com informações rápidas e superficiais. Nas Ordens iniciáticas – em especial na Maçonaria – predominam “zonas de conforto”, onde é mais fácil o iniciado receber respostas prontas para tudo do que raciocinar por si mesmo ou transcender os significados. Não há incentivo neste sentido, pois, na maioria das vezes, quem cuida de instruir tem como objectivo e fim a exaltação da própria vaidade. Os resultados estão aí, bem visíveis: Lojas vazias, falta de motivação, o desinteresse e a ausência de projectos que justifiquem a nossa permanência junto à sociedade.
José Maurício Guimarães
[1] As palavras “psíquico”, “psíquica” e “psique” referem-se à parte imaterial do indivíduo, à sua esfera comportamental, alma, mente ou espírito.
[2] Conceitos capazes de identificar objectos ou realidades, ultrapassando outras categorizações possíveis.
Fonte: freemason.pt
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