Porquê praticar o Rito Brasileiro? O que o faz deste um rito criado e difundido no Brasil? Imbuído destas perguntas, elaborei este trabalho, com o intuito de esclarecer aspectos gerais do nosso rito. Assim, traço um panorama histórico da constituição do mesmo, a sua estrutura, peculiaridades, harmonia apropriada e quantas são as oficinas do rito no Paraná.
Apesar de a história relatar factos antecedentes, o Rito Brasileiro foi criado em 23 de Dezembro de 1914, pelo então Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, Lauro Sodré. O reconhecimento do rito como legal, legítimo e regular ocorreu em 1916, aprovado pela Assembleia do GOB. A declaração de princípios, regimentos, estatutos e rituais foram implantados em 1917, finalizando assim, o processo de consolidação do rito. No entanto, foi apenas em 1921 que a Loja Campos Sales (SP), começou a praticar o mesmo – também não logrando êxito. Após um tempo de incertezas, é fundado o primeiro Supremo Conclave para o Rito Brasileiro em 1968. Por conseguinte, a Loja Fraternidade e Civismo (RJ) solidifica o rito, passando este a ser reconhecido internacionalmente.
Como o próprio nome diz, o rito é genuinamente brasileiro, possuindo como um dos altos objectivos incentivar o civismo em cada pátria. Assim, este pode ser praticado em qualquer país, desde que adaptado para as realidades locais. É teísta, afirmando assim a crença em Deus, o Supremo Arquitecto do Universo, mas respeitando as convicções dos demais ritos sem quaisquer restrições. No seu brasão, estão gravadas as legendas Urbi Et Orbi (à cidade e ao mundo) e Homo Homini Frater (O homem é um irmão para o homem).
Na sua estrutura, está organizado em três graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) – da Maçonaria Simbólica de São João, e destes elevam-se trinta graus superiores (filosóficos), compondo assim trinta e três graus – uma semelhança com o modelo organizacional do Rito Escocês Antigo e Aceite. Destes,
- o grau de Aprendiz está consagrado à fraternidade dos irmãos;
- o de Companheiro à exaltação do trabalho e o estímulo à solidariedade;
- o de Mestre ao princípio de que a vida nasce da morte.
Dentre as suas peculiaridades, destacam-se o uso de bastões pelos diáconos e pelo Mestre de Cerimónias; o retorno da palavra sagrada ao início e término dos trabalhos; o sinal do rito; a cerimónia de acendimento das luzes místicas e a colocação do altar dos compromissos defronte ao altar do Venerável Mestre, contendo o Livro da Lei, Esquadro, Compasso e a Constituição do Rito Brasileiro; a inversão das colunas maçónicas B (sul) e J (norte), baseado na pouca luz do hemisfério sul.
Outro aspecto peculiar diz respeito ao Mestre de Harmonia no Rito Brasileiro. Orientado por uma sequência de músicas apropriadas, a harmonia numa Loja do rito possui maior complexidade. O Supremo Conclave Autónomo para o Rito Brasileiro estabelece algumas canções, divergindo dos demais ritos que não/ou pouco possuem músicas obrigatórias. Dentre elas estão os hinos de abertura e encerramento; a “Acácia Amarela”, de Luiz Gonzaga, quando da circulação do tronco de beneficência [1]; a execução do Hino à Bandeira e Hino do Paraná (ou do estado correspondente) em todas as sessões; Rosário e Ave Maria; e a entonação do “Parabéns à você”, momento que não ocorre em nenhum outro rito.
No Estado do Paraná, possuímos sob os auspícios do Grande Oriente do Paraná, 9 lojas do Rito Brasileiro, sendo três em Curitiba, duas em Londrina e Maringá (21 de Abril – Rito Brasileiro e Cinquentenário), uma em Apucarana e uma em Ponta Grossa. No Grande Oriente do Brasil – Paraná, são 7 lojas do rito: duas em Foz do Iguaçu, uma em Colombo, Curitiba, Ibiporã, Paranavaí e Maringá (Terra Brasilis). A Grande Loja do Paraná não possui lojas regulares do Rito Brasileiro.
O Rito Brasileiro é importante instrumento cívico na obra maçónica. Eleva o sentimento patriótico sem ufanismo exacerbado, demonstrando aos obreiros como é bom valorizar a pátria e a difusão dos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Além de captar a simpatia dos membros dos outros ritos, um Maçon praticante do Rito Brasileiro deve, sobretudo, amar a pátria em que vive e cumprir com os seus deveres cívicos, lembrando aqueles que já se foram, agindo no presente e trabalhando para um porvir virtuoso na maçonaria universal.
Tiago Valenciano
Notas
[1] Segundo informações dos Irmãos.
Bibliografia
- DELEGACIA LITÚRGICA DO RITO BRASILEIRO PARA O ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL. História do Rito Brasileiro.
- LOJA MAÇÓNICA LUZ NO HORIZONTE. Diversos arquivos
- SPOLADORE, Hercule. História da criação do Rito Brasileiro
- SUPREMO CONCLAVE DO BRASIL PARA O RITO BRASILEIRO. Constituição do Rito Brasileiro. Brasília: 1968.
- SUPREMO CONCLAVE AUTÓNOMO PARA O RITO BRASILEIRO. Ritual do 1º Grau Aprendiz Maçon. Cataguases: Gráfica Cometa, 2006.
Fonte: freemason.pt
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