Reflexões sobre a Maçonaria

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Reflexões sobre a Maçonaria

Já alguma vez pararam para pensar o que é que a Maçonaria é exactamente e o que significa? Se o fizeram, não esperem encontrar uma resposta simples e não aceitem algumas definições produzidas com simplicidade e que tantas vezes ouvimos quando este tema salta para a discussão. Acredito que, na realidade, muitos nunca ponderaram aprofundadamente acerca disto, mas estão, não obstante o facto, contentes e satisfeitos com a sua filiação, acomodados no facto de terem encontrado algumas contribuições desarticuladas para as suas vidas às quais trouxeram satisfação e contentamento. Ao longo dos anos, encontrei dificuldades em articular qual o significado exacto para mim e para a análise dos seus elementos. Então, há alguns anos atrás, tive um período de inactividade forçada e tive tempo e oportunidade para me debruçar sobre o assunto.

Na sua iniciação, os Irmãos asseguram que o candidato “vive com boa reputação entre os seus amigos e vizinhos”. Como consequência, ele é, ou deveria ser, um cidadão pacato e respeitador da Lei que vive em boa harmonia com os outros. Pouco tempo depois, o candidato afirma que veio “com a noção preconcebida da excelência da Ordem, uma ânsia pelo conhecimento e um desejo de se sentir consideravelmente útil entre os seus companheiros”. Mais tarde, na instrução, ele afirma que a criação da Maçonaria é “ a prática de toda a virtude social e morar. Ele é exortado a estudar a forma como há-de cumprir a sua obrigação para com o seu Deus, para com os seus vizinhos e para consigo: para ser um cidadão exemplar e que, como indivíduo, deve pôr em prática todos os actos privados tão bem como o faz com as pública virtudes, procurando manter as verdadeiras características maçónicas, a benevolência e o amor fraternal.

Seguindo no seu segundo grau, ele afirma que não deveria “ concordar apenas com os princípios da Ordem, mas persistir firmemente nas suas práticas”. Finalmente, no seu terceiro grau, ele exprime que o seu “comportamento proporcionará o melhor exemplo para a conduta dos outros” .

Ainda mais tarde, no topo da sua carreira na Ordem, quando instalado no Trono da sua Loja, ele permite que haja uma lista polivalente de instruções como as suas atitudes e comportamentos. Considerando bem as coisas, o principio básico total é que pela admissão na Maçonaria e pelo seu significado e prática dos seus princípios e preceitos que ele poderá atingir uma maior credibilidade pessoal e tomar-se num exemplo para alguns, num benfeitor, para outros.

Espera-se confiadamente que a Maçonaria causará este estado de coisas mas, na sua vida diária, o Maçon actuará reciprocamente com os outros como um individuo e não na sua capacidade como um Maçon. A Maçonaria é, por consequência, um exercício intelectual e filosófico esboçado e planeado, para criar uma contribuição do individuo para a sociedade, tornando-a num prolongamento de si próprio, e sem a qual não teria sido possível ter a oportunidade de desenvolver as suas capacidades e aptidões enquanto membro da Ordem.

A eleição para membro de uma Loja e a iniciação nessa Loja são indicações claras e a confirmação de um mérito ou valor; e o reconhecimento é semelhante por parte dos Irmãos. Poderá aumentar a auto-estima e com esperança poderá produzir um estado consciente ou subconsciente de provar aos outros que merecem a confidência e confiança. As promoções subsequentes aos segundo e terceiro graus são simbólicas da demonstração que os Irmãos fazem da satisfação das suas escolhas iniciais e das decisões correctas que tomaram e que o candidato é merecedor, pela virtude do seu zelo, interesse e capacidade na arte simbólica, em cada uma das promoções. Estes consequentes e adicionais sinais de apreço produzirão no candidato satisfação pessoal acrescida e uma maior autoconfiança.

A Loja ensina competências muitas vezes de forma espontânea, ou não experimentada. Um Irmão tem de falar em público, tomar decisões, votar regulamentos e finalmente dirigir reuniões. Estas situações são de inestimável valor em todos os aspectos da sua vida e por muito bom que seja, esta pode ser a única oportunidade de aprender, de praticar e aperfeiçoar estas competências e técnicas.

De facto, penso que actualmente muito do que existe nesta lista de benefícios – o “Produto Maçónico” –é deixado ao candidato para realizar para si próprio; e muito do simbolismo é perdido a menos que a mente do candidato esteja motivada com entusiasmo para essa temática. Na realidade, a Maçonaria realiza muitas das necessidades psicológicas do homem médio. Comparando com as mulheres, acredito que os homens sejam criaturas mais gregárias que sentem o “grupo” ou o instinto de “rebanho” de uma forma mais forte. Eles precisam de pertencer a qualquer coisa, à escola ou a um clube; e a Loja compromete-se a desempenhar esse papel desde que, como num Regimento, um uniforme diferente indique o lugar de cada indivíduo na “ordem hierárquica” ou no seu grau alcançado. Além disso, a Loja proporciona a satisfação de interesses pessoais os quais podem a ser recusados simultaneamente no local de trabalho e em casa – administração, responsabilidade, talentos dramáticos, cerimoniais, elevações, cuidados e atenções – mas acima de tudo, a Loja proporciona paz e tranquilidade, um abrigo onde aquilo que se procura é encontrado com firmeza; e o aumento da agitação da vida exterior pode, com certeza, ser evitado e olvidado por algum tempo. As baterias podem ser recarregadas e a influência suavizante da Loja poderá ajudar, mais uma vez, a preparar-se para desordem exterior.

Aqueles que sofreram, ou que possam vir a sofrer, de traumas mentais sérios, como a tensão, ou talvez a depressão causada pelo estresse imposto pela vida moderna, sabem como isto é verdade e podem testemunhar a calma e o efeito da calma desta única e inestimável atmosfera, que é encontrada no interior da Loja.

A Maçonaria não é Caridade, mas como qualquer grupo fraternal, a necessidade de um Irmão ou dos seus dependentes, receberá a simpatia e o apoio, nem sempre com apoio financeiro, por parte dos seus Irmãos. A Caridade é uma ramificação do Amor Fraternal que é promovida explicitamente no ethosMaçónico, mas que não se toma na “raison d’etre” da Ordem. Não encontro melhor referência para o nosso esforço caritativo que a citação de Sua Alteza Real o Duque de Kent, Grão-Mestre de Inglaterra, que na comunicação à sua Grande Loja em Abril de 2001, disse: – “Em matéria de caridade, deixem-me lembrar-vos primeiro que a Maçonaria ela não é uma caridade. Nem tem a caridade como o seu principal desígnio. A caridade é apenas uma expressão do verdadeiro espirito da Maçonaria, uma manifestação para os nossos Irmãos e seus dependentes, e para toda a comunidade de geral para que os nossos corações sejam de facto “expandido pela benevolência”.

O desígnio da Maçonaria é o “aperfeiçoamento próprio” – não no sentido material, mas nos aspectos intelectual, moral e de desenvolvimento integral e psíquico da pessoa, no sentido filosófico do termo, como na bonita e emotiva linguagem do ritual, “preparando-nos para que tomemos os nossos lugares, como pedras vivas, na grande construção espiritual, que não são produzidas com as mãos, mas duráveis para a eternidade”. Eis um todo hipotético, desenvolvido, que o desenvolvimento pessoal deve ter, no seu percurso pela vida, e na sua interacção que mantêm com os outros, dando uma maior contribuição extensiva para a sociedade em geral, realizando e levando a cabo o seu desejo expresso na iniciação, tornar-se “ consideravelmente mais útil entre os seus amigos”.

Cada individuo, nalguma ocasião, é forçado a ser um pouco introspectivo e pergunta a si mesmo “quem sou e onde estou?” Mesmo em organizações como a Ordem Maçónica deve mesmo ocasionalmente perguntar a si próprio “quem somos e o onde estamos?” O que somos, para alguns é matéria já tratada. Somos uma organização fraternal, que aponta para o amor fraternal, a ajuda às aflições dos nossos Irmãos e seus dependentes e a procurar a “Verdade” a qual a podemos expressar, e a expandi-la, como moral publica ou privada, o conhecimento e o temor de Deus, e no seu seguimento, o respeito pelo amor dos nossos vizinhos. Esta estima inclui a tolerância pelos seus pontos de vista, das suas crenças religiosas e das suas opiniões políticas. Se perseguirmos os objectivos da Maçonaria, a nossa procura será alargada, focalizando a nossa visão, enquanto produzimos em nós um conhecimento mais profundo, e uma maior aproximação ao Grande Arquitecto do Universo, elevando a nossa espiritualidade e aprofundando o nosso conhecimento dentro do qual nós nunca poderemos esperar atingir a compreensão total. Há muito mais na Maçonaria que a avaliação profunda da superficialidade actual e da verificação limitada da sociedade, que se preocupa preferencialmente, com o sucesso material do indivíduo do que com a contribuição deste para a sociedade.

Em termos de mercado, devemos ver a Maçonaria como um produto. É o que estamos a “vender”, ou de outro modo, a proporcionar o entendimento dos membros ou potenciais membros. Devemos melhorar o produto ou tornar a embalagem mais atractiva.

A Maçonaria é um produto perfeitamente estável – muito pequena poderá ser usada para alterar o produto sem mudar inteiramente a sua essência e aparência. Os seus princípios e normas sofreram a prova do tempo e são hoje tão válidos como outrora. Não podemos mudar o produto e continuar tudo na mesma; e devemos ser honestos connosco. Se queremos obter uma nova linha de produto deve ser aceite e reconhecido que isso é exactamente o que fazemos; e devemos ser verdadeiros connosco nesta matéria. Se nós queremos introduzir uma nova linha de produtos deve ser aceitável e reconhecido que isso é exactamente o que queremos fazer; e talvez não o queiramos tanto quanto antes de alguém decidir que o novo produto não é perfeito e precisa de um ajuste adicional para encontrar as procuras actuais da sociedade. Isto que sugiro não é uma opção que nos esteja aberta. O que temos e o que significa que desejamos que permaneça sempre correcto, mesmo com altos baixos ao longo do tempo.

O que podemos fazer é uma actualização do pacote, e fazer com que seja mais atractivo para os potenciais clientes, enquanto também se actualiza segundo o gosto dos actuais consumidores. Nestas circunstâncias podemos – e na realidade muitos já o fizeram – adoptar activamente uma fasquia mais alta; e devagar mas com firmeza “deixar a nossa luz brilhar perante os homens”. A candeia à janela é o convite simbólico compreendido por todos; e alguns aceitarão e baterão à porta. Estou inteiramente em desacordo com a atitude de“ andar por tudo o que é caminho e obrigá-los a entrar”. Vender a todo o custo não é função da Maçonaria, no entanto podem tentar vestir essa roupagem. A Maçonaria adoptou e mostra sinais de saber através de todas as posições harmonizadas, ou procuras uniformes, os seus conhecimentos e o que elas estabelecem. A Maçonaria não é para toda a gente; mas estando no interior dos povos e ao longo dos tempos, poderá alguém responder ao seu apelo. Pelo seu pacote e pela sua apresentação, estes compradores podem ser identificados e exagerados mas não podem ser criados.

Cabe a todos nós, da base ao topo, com prioridade naquela ordem e direcção, decidir a “mistura” correcta para efectuar a criação de uma Maçonaria renovada para nós próprios e para proveito das futuras gerações.

O que tentei enfatizar foi a forma como nos devemos mover dentro deste novo milénio, devendo mantermo-nos inalteráveis na nossa adesão aos Objectivos e Princípios e não na tentativa da aceitação pública através da promoção ou na procura de actividades não maçónicas com as quais podemos somente, de um modo geral, criar a nossa ruína. Devemos ser pacientes e aguardar pelo nossa oportunidade para podermos regressar de novo. Ouvi dizer que o ritmo da vida e os seus estresses são os responsáveis pelos aspectos mais frenéticos que existem no presente e que, se podemos enfrentar isto intelectualmente, torna-se questionável que muitos possam fazer frente emocionalmente.

Nestas circunstâncias, com a Internet a bombardear-nos com uma vastíssima possibilidade de utilização de informação ética e não ética que temos na privacidade dos nossos lares, acredito que o Irmão Michael Yaxley, Presidente do “Board of General Purposes” da Grande Loja da Tasmânia está totalmente certo quando escreve “a Sociedade tem necessidade de possuir um corpo como a Maçonaria. Eu acredito que esta necessidade traz mais benefícios que malefícios. No presente século o local de trabalho não oferece companheirismo nem camaradagem suficientes que satisfaçam os instintos sociais de que as pessoas necessitam. Muita gente trabalha em casa, ligados ao escritório pelo computador e pelo telefone. Outros trabalham num escritório de elevada complexidade não obstante a existência de equipamento inanimado. A ironia da Idade da comunicação é que as pessoas despendem, e despenderão, mais tempo sozinhas”.

Devemos ser cuidadosos na nossa precipitação, que deve ser feita devagar – “festina lente” – quando somos abordados, por todos os lados, com exortações para trazer a Ordem ao século XXI – ou para sair do nosso compasso de tempo, como expressou o Irmão Robert H. Abel da Nova Zelândia. Ele referia que outro Irmão considerava que não era prestigioso, para a Maçonaria, para além de vir a ter consequências nefastas para a Ordem, o facto da nossa Instituição ter de proceder ao recrutamento em público. Ele queria ver a Ordem respeitada pelos esforços dos Irmãos na sociedade onde vivem – todos nós temos, por vezes outras percepções da Maçonaria. Ele acredita que a espiritualidade do homem tende para altos e baixos ao longo de períodos cíclicos; por isso, devemos garantir que a nossa Ordem dure sem mudanças no futuro e que as próximas gerações posam apreciar e desfrutar o que agora fazemos.

Michael W. Walker
Grand Secretary of the Grand Lodge of Ireland

Fonte: www.freemason.pt

By | 2019-03-14T13:35:14-03:00 março 14th, 2019|Notícias|Comentários desativados em Reflexões sobre a Maçonaria