O galo e a faixa com os dizeres “Vigilância e Perseverança” na câmara de reflexões
A Câmara de Reflexões é um local um tanto quanto discreto, meio escondido, num templo maçónico, sem janelas, pouca luz, quase escuro, parecido com uma gruta ou caverna, semelhante às antigas iniciações, onde o candidato fica só um determinado tempo, para sua reflexão, com a sua iniciação em andamento, realizando a primeira prova a chamada prova da terra. Para alguns ela simboliza o centro da Terra de onde o candidato veio e para onde voltará. É um local ideal para meditação e introspecção. Aí o candidato inicia a procura do EU e a consciência da relação deste EU com o GADU.
Nem em todos os Ritos a Câmara de Reflexão é igual. A de alguns ritos é mais simples. Mas principalmente a do REAA tem uma simbologia alquímica, esotérica e hermética muito grande.
Entre os símbolos existentes dentro da Câmara de Reflexão existe pintado na parede um galo em posição de canto, encimado por uma bandeirola que alguns autores a chamam de flâmula ou filactera, com os dizeres “vigilância” e “perseverança” Seria uma espécie de banda ou bandeirola que por cima dos escudos e brasões, ou isoladamente aparece sempre com uma legenda inscrita.
Vigilância nos dicionários quer dizer acto de vigiar, precaução, cuidado, zelo, diligência.
Perseverança quer dizer qualidade ou procedimento de pertinácia, constância, firmeza e ainda persistência. Nos manuais maçónicos os dizeres referidos significam “vigiar severamente” Sugere ao candidato que ele desde aquele momento deverá estar sempre atento e esperto aos símbolos que agora está a visualizar, mas cuja compreensão só conseguirá com muito estudo e perseverança e com mais tempo de Ordem.
Quanto ao galo este apresenta um simbolismo mais abrangente com uma tradição mais extensa e mais antiga.
O galo é uma ave da ordem dos galiformes, da família dos fasianídeos. Teria aparecido no sul da Europa nos tempos pós-homéricos, cerca de cinco a seis séculos a.C.
Ao que tudo indica ele foi trazido pela guerra dos persas, sendo incluído na Europa.
Segundo narrativa grega Áries (Marte) passava as noites com Afrodite durante a ausência do esposo Hefaistes (Vulcano) e tinha incumbido Alektraon de ficar vigiando a chegada do marido. Mas Alektraon adormeceu e o marido surpreendeu os amantes. Áries para castigar o falso vigilante transformou-o num galo. Alektraon que em grego antigo quer dizer galo, uma ave castigada à eterna vigilância.
Diz-se que o galo cantando de madrugada (embora também cante noutras horas), assombra o leão, espanta os demónios, dissipa o terror da noite.
Na antiga Líbia os viajantes levavam consigo um galo, pois acreditavam que ele protegê-los-ia dos leões e basiliscos. Os basiliscos eram monstros míticos, cujo olhar matava instantaneamente quem os olhasse. Seriam produtos da concepção de um ovo de galinha chocado por uma serpente. Com o canto do galo estes monstros morreriam em convulsões.
Para os antigos, o canto do galo era ouvido com alegria, durante a noite, pois espantava os supostos demónios.
Dizia-se que o galo afugentava a noite e chamava o dia. A crença persa continuou a persistir na Europa onde afirmavam que o galo desperta a aurora, convoca a humanidade a saudar a perfeição sagrada e o canto esconjura os espectros e demónios. Por isto ele simboliza a alvorada. O seu canto marca a hora do amanhecer, portanto a vitória da Luz sobre as Trevas.
O galo é considerado o arauto do sol e também o anunciador da ressurreição do sol. Vemos aqui a sua relação com o culto solar dos antigos.
Heliodoro, autor grego, escreveu no século III que o galo canta por causa do seu parentesco com o sol e ele também estaria associado a Asclépio, o deus da Medicina. Por associação far-se-ia a combinação galo-Sol-poderes vitais. Acredita-se que esta ave era consagrada à Apolo, deus do sol.
No folclore o galo tem significados interessantes, até hilariantes como, por exemplo, se cantar fora de hora significa que a moça foge de casa, também indica mau agouro.
Sacrifícios de galos já foi uma prática usada que ainda perdura em alguns cultos.
No Oriente dizia-se que sangue de um galo sacrificado à cabeceira de um doente e espargido sobre o mesmo poderá ocorrer uma cura instantânea. No Ceilão, Escócia, Alemanha numerosos ritos de sacrifício, usavam amuletos e preparados, preparavam poções e sempre mantinham um galo associado à magia curativa.
No ocultismo usa-se o galo na alectriomancia, ou seja, a adivinhação com auxilio do galo, o qual é colocado no centro de um círculo ou quadrado, dividido em vinte e quatro partes, tendo cada uma, uma letra do alfabeto e um grão de milho. A interpretação seria dada de acordo com a ordem de bicação do milho. Ainda no ocultismo fala-se de uma pedra encontrada no fígado ou estomago do galo, cujo nome é alectório e que torna invencível quem possuir uma.
Entre os hermetistas, o mercúrio aparece sob a forma de galo. Seria o símbolo da pureza, sabedoria e inteligência. É também considerado como símbolo da vigilância da ousadia ou intrepidez. O galo era consagrado ao mercúrio. Diz-se que ele tem as qualidades do mercúrio secreto (alquimia).
Entre os católicos o galo lembra a Penitência e São Pedro, o qual negou a Cristo antes do galo cantar três vezes. O galo aparece em muitas torres de Igrejas. Os cristãos primitivos reuniam-se ao primeiro canto do galo.
Nestas alturas já se entende que o galo que aparece na Câmara de Reflexões não é um símbolo maçónico. A Maçonaria o tomou emprestado. Ele praticamente está presente em todas as culturas antigas. Logo, apesar de usado na Ordem não é um símbolo de origem maçónica, mas adoptado pela Ordem.
O galo simboliza a Vigilância, lembrando que o Maçon deverá ser vigilante na função que desempenhar na sociedade. Na Câmara de Reflexões perto da ampulheta significa que o tempo não para, não cessa para o Maçon. O galo também simboliza as forças adormecidas que a iniciação tenta despertar nos neófitos anunciando a luz que ele irá receber, como se fora uma verdadeira ressurreição porque o Maçon ao ser iniciado, morre para o vicio e nasce para a virtude ou seja, morrendo para vida profana e ressurgindo num plano de espiritualidade mais completo e elevado. É lógico que todos os demais símbolos existentes na Câmara de Reflexão fazem parte do processo iniciático, cada qual complementando e interagindo com os demais.
Hercule Spoladore – Loja de Pesquisas Maçónicas “Brasil” – Londrina – PR
Fonte: freemason.pt
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