Normalmente observamos irmãos tecendo comentários e até criticando lojas que não conseguem crescer rapidamente. Chegam inclusive a perguntar se os irmãos componentes daquelas lojas não têm amigos. Não é bem assim. Não é qualquer amigo que deve ser convidado para engrossar as colunas da Ordem.
Em verdade a Maçonaria não tem interesse apenas na quantidade de membros, mas, principalmente na qualidade dos componentes do seu quadro, porque somente com qualidade é que se perpetuarão os seus objectivos e ensinamentos, que não devem ser conhecidos por não iniciados. Da mesma forma, o Padrinho não deve esquecer de que o seu afilhado no futuro poderá vir a ser Venerável Mestre e até Grão-Mestre. Por isso, tem que ser exigente na escolha e não convidar qualquer pessoa que conheceu e achou que tem perfil para ser Maçom ou, porque a pessoa lhe prestou algum favor ou ainda, porque faz parte de uma determinada casta social.
A perpetuação da Ordem Maçónica depende em muito do padrinho, pois, conforme for a sua escolha ou indicação terá a Maçonaria, excelentes obreiros ou simplesmente maçons incapazes de desenvolver o trabalho a que ela se propõe, que é oferecer meios que facultem melhores dias para a humanidade ser feliz.
Os meios apresentados pela instituição maçónica para que possa a humanidade ser feliz, são de simplicidade ímpar, bastando que os maçons os exercitem e os coloquem em prática no mundo profano. Na prática dos meios estabelecidos pela Ordem Maçónica, deve o Maçom pregar:
- o amor como meio primordial de resolução de qualquer problema e união das pessoas;
- que através do aperfeiçoamento dos costumes é possível viver-se em sociedade sem tumulto;
- que exercitando-se a tolerância com paciência, se evita atritos entre as pessoas;
- que todos são seres humanos com ideias próprias e como tal, devem ser tratados com igualdade e respeito, inclusive se respeitando à autoridade e a crença de cada um, não se estabelecendo para isto, fronteiras ou raças, até porque todos são efectivamente iguais.
Daí uma grande responsabilidade do padrinho na indicação do candidato, porque deve ter a perspicácia de saber se o seu escolhido pode ou não, desenvolver as actividades maçónicas na forma como lhes forem ensinadas e exigidas.
Por esta e por outras razões é que dizemos que o padrinho ou proponente, deve ser considerado tão importante quanto o próprio candidato a Maçom, uma vez que é o responsável directo pelo seu afilhado.
Perante a Assembleia da loja, o Padrinho garantiu através de documento assinado, que o seu escolhido reúne todas as qualidades exigidas pela Ordem para que ele possa pertencer ao seu quadro. A responsabilidade que tem início na escolha do candidato deve continuar durante toda a vida maçónica dos dois (Proponente e Candidato), nunca o padrinho permitindo que o seu afilhado enverede por caminhos tortuosos, orientando-o sempre da melhor forma, para que o seu convidado possa vir a galgar graus, exclusivamente por merecimento.
Padrinho significa protector, patrono, enquanto que afilhado tem o significado de protegido, patrocinado.
Já a palavra “candidato” tem como raiz o significado “Cândido”, ou seja; que tem alma cândida, caracterizado pela candura. Em sentido figurado: ingénuo, inocente, puro. Assim, um candidato deve, efectivamente, reunir as qualidades que lhe dão a dignidade para se juntar aos membros da instituição maçónica como base na filosofia milenar, sempre oportuna e actual. Ao padrinho Maçom compete conhecer muito bem o candidato, bem como a sua família. Quando algum profano se inicia na Ordem Maçónica, também ingressam a sua esposa e os seus filhos e demais familiares, razão pela qual, é de suma importância a participação efectiva de todos os membros da família, para a realização dos mais diversos actos, tais como solenidades festivas, Ordem DeMolay, Filhas de Jó, movimentos caritativos etc., etc..
Logo, é necessário que o padrinho tenha muita cautela na escolha do afilhado, devendo para isto, conhecer o seu relacionamento familiar, o seu procedimento junto aos colegas de trabalho, a sua situação económica, a sua disponibilidade financeira, a sua disponibilidade de tempo para acompanhar os interesses da Ordem, o seu grau de cultura, a sua desenvoltura no manejo das palavras e principalmente, o seu grau de percepção no entendimento dos assuntos a ele expostos.
Um profano só deve ser convidado a ingressar na Maçonaria, quando ele demonstre sem sombra de dúvidas, interesse para isso e quando a sua esposa, se casado for, não apresente qualquer sintoma de má vontade.
O padrinho, ao apresentar o nome do seu candidato, está investido de uma autoridade delegada por irmãos que confiam piamente nele, entendendo que este padrinho traga ao seio da Maçonaria, um futuro irmão, que preserve os costumes da Ordem. Contudo, a responsabilidade do padrinho não pára por aí, porque dele depende o comportamento do seu afilhado, tendo o padrinho como exemplo, cujo padrinho também é responsável pela manutenção destes costumes.
O padrinho deve aparecer para o seu afilhado como sendo o Mestre dos Mestres, deve ser como um “Pai”, um grande amigo, um confidente conselheiro procurando iluminá-lo, de forma que os seus passos na conquista dos graus sejam alcançados exclusivamente por mérito. Logo, ao Padrinho compete dar um bom exemplo para o seu afilhado, inclusive cumprindo rigorosamente com as suas obrigações pecuniárias junto da Ordem.
É bom lembrar que o padrinho tem o dever de procurar o seu afilhado, quando este se encontre em incumprimento perante a Loja , pois, quando o padrinho apresentou o nome do seu proposto, afirmou categoricamente mediante documento assinado, está em condições de responder pela idoneidade moral e financeira do candidato. Por outras palavras, o padrinho quando apresenta à Assembleia o nome de um candidato, verifica-se que quase ninguém (ou mesmo mais ninguém) conhece o apresentado. Ocorre que os membros da Assembleia simplesmente acreditam nas palavras do irmão e aprovam o início do processo de inquirição.
Todavia, quando se formaliza o processo com inquirições e documentos comprobatórios da idoneidade do candidato, é boa prática que o Venerável Mestre oriente os inquiridores no sentido de que sejam exigentes, não apenas confiando nas informações do proponente, porque, mesmo sendo o proponente um Maçom, não deixa de ser um ser humano passível de erros.
Infelizmente acontecem casos em que o Padrinho depois da iniciação do afilhado, se afasta da Ordem como se dissesse: vou deixá-lo no meu lugar. Outras vezes observa-se o afilhado a cobrar ao padrinho as responsabilidades que este não tem cumprido. Na verdade, conforme já dito, o padrinho deve ser o espelho do seu convidado.
Deve ser estabelecido como princípio maçónico, que o nome de um candidato não surge apenas de uma vontade profana, mas de uma “predestinação divina”. Resumindo: é o G∴ A∴ D∴ U∴ que passa às mãos de um Maçom que recebe o título de “apresentador” ou “ padrinho”, aquele que de facto e de direito, merece ser iniciado nos AAug∴ Mistérios da sublime Ordem Real.
Quando um irmão recebe a incumbência determinada pelo G∴ A∴ D∴ U∴ de propor um candidato, deve conscientizar-se dos encargos que advêm com aquela apresentação. Por isso, não deve fazer a escolha motivado pela emoção, mas tão somente, por força da razão. O Padrinho tem o dever inclusive, de no dia da iniciação, conduzir o seu afilhado até o local onde será iniciado.
Chegando ao prédio onde funciona a Loja, na sala dos PP∴ PP∴ o candidato é vendado pelo seu padrinho para que fique privado da visão. Privado do mais precioso órgão dos sentidos, o candidato deixa de ver com os olhos materiais e passa a enxergar com os olhos do espírito, tendo início verdadeiro processo esotérico que produzirá efeitos misteriosos, cujos efeitos, irão criando pouco a pouco algumas imagens e alegorias na mente do iniciando dali em diante.
Uma vez vendado o candidato é entregue ao Exp∴ que colocando a mão sobre o seu ombro diz: – “Sou o vosso guia. Tende confiança em mim e nada receeis”. (Ritual Aprendiz Maçom)
Depois de iniciado, ao padrinho compete dotar o neófito das condições básicas para que ele possa desenvolver-se com satisfação e entusiasmo. Deve o Padrinho, ainda no dia da iniciação, orientar o iniciado no sentido de que não deve comentar com ninguém o que se passou, até porque ele prestou um juramento nesse sentido. Deve ainda o proponente, orientar o afilhado sobre a parte ritualística, ensinando-o a entrar em loja quando chegar atrasado, explicando a circulação em loja no sentido dextrocêntrico, de forma que o lado direito esteja sempre voltado para o Altar dos Juramentos. Deve orientá-lo em quais momentos se faz o sinal, deve inclusive, treiná-lo no trolhamento e incentivá-lo à leitura de livros pertinentes ao Grau de Aprendiz Maçom. Com estes ensinamentos básicos, de certo, as qualidades do neófito serão adequadamente desenvolvidas, passando a compreender o universo que representa a instituição maçónica. Deve também o padrinho capacitar o seu afilhado no uso da sabedoria, ensinando-o a exercitar a paciência e ficar observando de forma contínua todos os procedimentos, sejam ritualísticos ou não. Se o afilhado realmente for pessoa merecedora e tiver alcançado o seu objectivo com a iniciação que o transformou em Maçom, será capaz de absorver com clareza qualquer informação que lhe chegar.
Ainda compete ao padrinho, fortalecer o entusiasmo e o dinamismo do seu afilhado, levando-o ao deslumbramento da iniciação, explicando de forma inteligível todo o processo iniciático, inclusive, mostrando que o simbolismo da iniciação está exactamente na morte do homem profano para que nasça o Maçom. Com isto, deve o padrinho exaltar toda a magnitude da Maçonaria como Instituição, como elemento agregador e fortalecedor dos nossos pensamentos, deixando o afilhado apto e vigoroso para enfrentar e ultrapassar todos os obstáculos, os quais, na sua maioria, são trazidos por falsos maçons imbuídos de vaidades e com imposição de ideias desagregadoras.
Quando porventura ocorrer tais imposições capazes de desagregar provocando a desarmonia na loja, deve aflorar na mente do afilhado a figura do padrinho Maçom que sempre deu bons exemplos de dedicação à Sublime Ordem.
Na maioria das vezes, o padrinho só é lembrado no momento da indicação de um profano. No entanto, o padrinho deve ser presente e nunca ser esquecido, porque ele desempenha papel fundamental na formação filosófica do afilhado que pretende alcançar os mais elevados graus dentro da Instituição.
Desculpem-me se fui árduo demais, mas é assim que eu penso, como Mestre Instalado, e estou muito preocupado…
Adaptado de texto escrito por Denilson Forato
Fonte: freemason.pt
Comentários