Generosidade e maçonaria

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Generosidade e maçonaria

Sabiam que a generosidade já foi ilegal? Em Santa Cruz, Califórnia, já foi ilegal colocar dinheiro nos parquímetros de outras pessoas sem a sua permissão. Esta prática chamada “plugging coins” foi durante algum tempo considerada um acto ilegal pelo código municipal de Santa Cruz. A multa por uma utilização indevida do estacionamento era de USD 12,00. A multa pelas “plugging coins” era de USD 13,00.

Um homem de nome Cory McDonald, palhaço profissional e criador de bonecos torcendo balões, evitou que muitos proprietários de carros tivessem de pagar os 12 dólares, colocando moedas de baixo valor nos seus parquímetros vencidos. Depois de ser avisado várias vezes, acabou por ser multado pelos seus actos de generosidade. Recusou-se a pagar e a parar de fazer o que ele considerava ser “fazer aos outros o que ele gostaria que lhe fizessem a ele”.

Felizmente que ainda se faz justiça.

O assunto teve uma curiosa reviravolta por ter chegado ao conhecimento da CNN que se apressou a entrevistar Cory McDonald, daí resultando notícias em quase todas as cadeia noticiosas americanas.  Em breve, a Câmara Municipal de Santa Cruz estava a ser invadida por cartas de crianças de todo o país, bem com de as mais diversas organizações, tornando o autor num quase herói nacional.

A Câmara Municipal de Santa Cruz declarou (Publicado em freemason.pt)a lei como um “desastre de relações públicas”, e executivo camarário decidiu votar o seu fim, usando cada um, um nariz vermelho de palhaço.

Tudo  o que Cory queria era que as pessoas fossem mais solidárias e que se entreajudassem. Só isso.

A Epístola aos Gálatas, geralmente referida apenas como Gálatas, é o nono livro do Novo Testamento da Bíblia, e pensa-se que possa ter sido primeira carta que o apóstolo Paulo escreveu aos cristãos. Terá sido endereçada às igrejas da Galácia, uma região que na época era habitada por um grupo étnico de origem celta, localizada na região central da actual Turquia.

Uma das passagens de Galatians 5:22-25, é designada por “frutas do Espírito”, sendo a Generosidade, uma dessas frutas. Deixem-me ler uma pequena citação “O amor é a chave. A Alegria é o amor cantando. A paz é o amor descansando. A Paciência é o amor duradouro. A Bondade é o toque do amor. A Generosidade é o carácter do amor…”

Em Corinthians 9:6-12, também chamado de “encorajamento à Generosidade, diz-se “Lembrem-se disto: Quem semear pouco também colherá pouco, e quem semear generosamente colherá generosamente. Cada um de vós deve dar o que o seu coração decidiu dar, não com relutância ou por pressão”… e mais adiante  “Eles espalharam livremente os seus presentes aos pobres; a sua justiça permanece para sempre”.

Devemos desde logo, distinguir entre Generosidade verdadeira e troca ou compra de algo futuro. A verdadeira Generosidade ocorre quando não se espera nada em troca; quando o único retorno é a satisfação de ter contribuído para o bem-estar de alguém: dar, pedindo algo em troca, seja imediato, seja futuro, não é generosidade – é gesto muitas vezes egoísta; uma troca comercial que se faz em função do seu retorno.

Lembro-me de um cartoon que vi recentemente em que dois bonecos têm um diálogo como se segue:

– Tens bolinhos?
– Tenho um carro novo.
– Mas tens bolinhos?
– Tenho uma casa nova com piscina.
– Mas tens bolinhos?
– Não, não tenho.

– Então, toma um.

A Generosidade nada tem a ver com valor. Tem a ver com oportunidade, tem a ver com o sentir da necessidade e tem a ver com a real intenção de estar presente e de sentir os outros.

Ninguém é mais generoso por dar algo que não é necessário ou quando não é necessário. A generosidade tem muito a ver com a necessidade e esta é normalmente (Publicado em freemason.pt)específica e de cariz temporal. Ajudar quem não precisa de ser ajudado e/ou quando não necessita de ser ajudado, pode fazer sentir bem, mas é um acto mais dirigido ao coração de quem dá, do que de quem recebe.

Mais uma história…

Dirigindo por uma estrada do interior, um homem ficou sem combustível. Dirigiu-se a uma quinta por perto e pediu para chamar a Assistência. O agricultor fez questão de levá-lo no seu carro até à bomba de gasolina e de o trazer de volta. Sensibilizado, o homem quis pagar, ao que o agricultor respondeu:

Nem pense. Se eu recebesse o seu dinheiro, não me estaria a compensar. Estaria a comprar o bem que me soube ajudá-lo, e isso não está a venda.

É importante que analisemos a forma como interagimos com os outros. Será que nas relações, que são tão importantes para a nossa felicidade e bem-estar mental, estaremos a dar tudo o que podemos? Estamos a ser generosos porque isso faz as pessoas sentirem-se bem e nós gostamos de as fazer sentir bem, ou é somente porque isso nos faz a nós, sentir bem?

Devemos acarinhar esta ideia de generosidade – uma Generosidade de coração, uma Generosidade de espírito e uma Generosidade de amor. Devemos esforçar-nos por ser uma alma mais generosa; por fazer com que o querer aos outros seja foco central da nossa vida. As pessoas podem ser maravilhosas. Há tantas pessoas que têm uma generosidade completa e absoluta subjacente a cada fibra do seu ser. Podem até parecer que não se preocupam, mas quando é necessário, estão lá. E estão lá porque é importante para elas ser importante para os outros.

Mesmo quando têm as suas próprias coisas, estão disponíveis para ajudar, para ouvir e para se abrir – fisicamente e metaforicamente – e envolver-nos num enorme abraço como quem diz … vou estar aqui e quero que sintas que podes vir até mim a qualquer momento e saber que eu estarei presente com elas naquele momento.

Quando se procuram sinónimos de generosidade aparece por vezes, a expressão “mão aberta”. Isto pode ajudar a perceber o significado deste termo aparentemente simplista, mas que carrega tanto significado. Com generosidade, abrimos a mão para deixar o que está dentro, sair (Publicado em freemason.pt)para fora e partilhá-lo com os outros. Ao mesmo tempo,  faz-se o acto recíproco. Com a mão aberta, pegamos numa outra pessoa e embarcamos com ela numa jornada,  para onde ela precisar de ir naquele momento.

Perante isto, coloca-se a questão: mas para que haja generosidade, tem de haver uma necessidade?

Quando sorrimos ou cumprimentamos um desconhecido na rua, quando ajudamos alguém a atravessar uma estrada, parece não haver uma necessidade.

Mas não haverá uma necessidade nossa de sermos afáveis, úteis… sociais?

Outra questão para terminar. E perante uma necessidade, há sempre generosidade? A resposta é não. É preciso que do outro lado esteja alguém que tenha o “gene” da generosidade, seja ele inato ou adquirido.

Nós, Maçons temos a pretensão de ajudarmos a adquirir ou potenciar esse gene. Mas será que para nos tornarmos Maçons, não temos de o ter previamente?

António Jorge

 

Fonte: freemason.pt

By | 2019-09-29T13:34:51-03:00 outubro 11th, 2019|Notícias|Comentários desativados em Generosidade e maçonaria