DISCURSO PROFERIDO PELO VENERÁVEL MESTRE DA LOJA MACÔNICA COTINGUIBA CARLOS AUGUSTO BITTENCOURT DE OLIVEIRA POR OCASIÃO DO 146º ANIVERSÁRIO DA LOJA MAÇÔNICA COTINGUIBA, NO DIA 14 DE NOVEMBRO DE 2018.
Comemoramos hoje, o centésimo quadragésimo sexto aniversário desta Augusta e Respeitável Loja Simbólica Cotinguiba. O dia 10 de novembro de 1872, é a data precisa da sua fundação, na cidade de Aracaju, desde então constituindo-se como a coluna basilar da maçonaria sergipana. Nasceu em meio a dificuldades políticas e sociais, quando o Brasil ainda se ressentia da longa e extenuante guerra contra o Paraguai. Maçons sergipanos intensamente comprometidos com as lutas em torno da liberdade, da fraternidade e da humanidade, vinculados aos ideais republicanos, e a favor da extinção da escravatura, fundaram essa Loja, sob os auspícios do GOB e tendo São João Batista como nosso patrono.
Neste ano irrompia a questão religiosa, desencadeada pelo bispo de Olinda, D. Vital, que perseguia os maçons das irmandades católicas. Sua 1º sessão de caráter pública foi realizada em 6 de julho de 1873 com o comparecimento maciço da sociedade sergipana, em sinal de júbilo pelo fato de ter o Imperador D. Pedro li, por esforços da maçonaria, dado provimento ao recurso interposto pela Irmandade do Santíssimo Sacramento da Igreja de Santo Antônio, da cidade de Recife, relacionada à suspensão que lhe impôs o então bispo, em face daquela corporação não haver expulsado do seu meio, sócios que eram maçons.
O primeiro templo maçônico nasceu modesto, como modestas eram ainda todas as edificações da cidade que se formava, todavia, obedecendo a um traçado urbano moderno para a época: as ruas e avenidas paralelas, que delimitavam sucessivos quadriláteros, com a mesma conformação e tamanho, um modelo de simetria geométrica, que a nossa simbologia e os nossos ritos relacionam aos paradigmas sempre sonhados da perfeição humana, em torno dos quais articula-se a filosofia maçônica. Fato auspicioso na cidade que uma engenharia criativa desenhava, eram os objetivos daqueles que instalavam esta Loja, com o desafio de darem curso a uma engenharia mais complexa, tratando de construir espaços para a virtude, a convivência, a liberdade, a fraternidade, enfim, à edificação das etapas superiores do progresso humano, iluminado pela crença nos desígnios de um Supremo Arquiteto do Universo.
Esta Loja pioneira inserida no pioneirismo da nova capital da Província de Sergipe Dei Rey, desde logo juntou-se ao esforço dos que venciam as asperezas do local semisselvagem, ainda insalubre também, e foi surgindo a cidade da qual, juntos, fizemos a mesma História.
Coincidentemente, e que feliz coincidência, daqui há quatro anos, em 2022, 5ergipe estará comemorando o bicentenário da nossa emancipação, quando nos separamos politicamente da Bahia, e, naquele mesmo ano, a Loja Simbólica Cotinguiba estará festejando o seu sesquicentenário. Precisamos começar, desde agora, a pensar nos eventos comemorativos, ou o rememorar de uma etapa do nosso trajeto, com os olhos postos na caminhada rumo ao futuro.
Quando passamos em revista o percurso que já fizemos, constatamos, com tranquilidade de consciência, que a história da Cotinguiba tem sido um roteiro de fidelidade à essência de valores que cultuamos. sem que deixemos de nos inserir na modernidade, e sem fazermos da
tradição uma forma de resistência à dinâmica social. As obras da Cotinguiba, obras maçônicas de uma maneira geral, em Sergipe são vivíveis através da criação da Liga Sergipense Contra o Analfabetismo, em 24 de setembro de 1916, visando erradicar o analfabetismo em Sergipe, atendendo a uma proposta do geógrafo Theodoro Sampaio, então presidente da 5ª Conferência Brasileira de Geografia, na cidade de Salvador, seguindo o movimento que se irradiava no País, proposta esta que solicitava aos intelectuais que constituíssem comissões estaduais de defesa e prática do ensino primário, tendo o desafio de combater o analfabetismo, para que na data do centenário da independência do Brasil, cada capital estivesse livre dele. Sua clientela era preferencialmente formada por operários adultos de fábricas têxteis, ferroviários, marítimos, comerciá rios e artesãos.
Com o poder público assumindo o dever constitucional de alfabetizar, inclusive com o surgimento do MOBRAL, a Liga Sergipense Contra o Analfabetismo redireciona suas atividades para o ensino proflsslonalizante. Nessa época, o poder público não ofertava o ensino de datilografia, que era oferecido por escolas particulares. A LSCA passou oferecer gratuitamente esse curso, que representava na época uma importante ferramenta para inserção no mercado de trabalho, sendo prova eliminatória em muitos concursos públicos como os do Banco do Brasil, BNB e tantos outros.
É importante frisar que, nessa época os cursos de datilografia atendiam ao crescimento do comércio, das indústrias e dos serviços, diante do desenvolvimento urbano de Aracaju, em cuja economia passaram a ser injetados recursos decorrentes da exploração dos minérios em Sergipe, notada mente, o petróleo, gerando com isso novas oportunidades de trabalho, inclusive para mulheres, com as suas inserções em escritórios, bancos e no serviço público.
Dentro desse contexto, foi ainda ofertado o curso de corte e costura, oferecendo capacitação de mão de obra para as indústrias têxteis de Sergipe.
Em 1918 e 1919, os maçons da Cotinguiba arregaçaram as mangas para o desempenho de um trabalho invulgar de combate a Influenza espanhola, que assolava a capital sergipana por mais de 1 ano, juntando-se às autoridades públicas tentando minimizar os efeitos desta epidemia que ceifou a vida de inúmeras pessoas na nossa sociedade. Por esse trabalho de assistência social, a Loja Cotinguiba foi destacada pelo Governo do Estado, sendo dos 885 doentes que estiveram a seu cargo, vieram a falecer 19. Em virtude desse relevante serviço, o GOB a eleva à categoria de Benemérita da Ordem Maçônica, pelo que ficou intitulada Augusta e Benemérita loja Capitular Cotinguiba.
Em 1930, foi criado o programa Pingo de leite, lactário que atendia crianças carentes, levando Ihes amor e carinho.
Atualmente no campo educacional, tem realizado o concurso de Contos, Crônicas e Poesias, encontrando-se em sua 5º edição, onde alunos do ensino fundamental e
médio têm a oportunidade de apresentarem seus textos, onde os selecionados são impressos em um livro, editado pela Loja Cotinguiba.
Com o objetivo de despertar jovens universitários para o debate de ideias sobre temas específicos, a Cotiguiba promove anualmente Fórum Maçônico, onde os futuros formadores de opinião de nossa sociedade, têm a oportunidade de se defrontarem com os diferentes pontos de vista dos conferencistas convidados. É digno ressaltar as parcerias com a UNIT e com a Fundação Acalanto, facilitando-nos em muito a realização dos eventos acima citados.
Por fim, tem a obra assistencialista do Asilo Rio Branco, onde 95 de sua Diretoria é composta por maçons, levando amor, carinho e os cuidados necessários aos anciões asilados.
Nessa comemoração festiva que hoje” fazemos, abrilhantada pela presença do Grão Mestre do GOB/SE e demais autoridades maçônicas sergipanas, das autoridades civis e militares aqui presentes, enfim, dos setores representativos da nossa sociedade, cumprimos, também, o dever do agradecimento e do reconhecimento aos que tanto têm feito pelo ideal maçônico, e por isso homenageamos na noite de hoje os irmãos Orlando Carvalho Mendonça, Domingos Pascoal de Meio e Diego Almeida Teixeira de Souza com a medalha do Mérito Cotinguiba e uma Moção Honrosa aos irmãos Moises Pereira dos Santos e Jorge Alberto Peixoto de Barros pelos relevantes serviços prestados na reforma desse Templo. A cada um, vos saúdo por 3×3 e nosso muito obrigado em nome da ARLS Cotinguiba Nº 235. São cidadãos dos quais a maçonaria sergipana tem muito de se orgulhar.
Estamos por tudo isso felizes, mas não poderíamos dizer que estamos satisfeitos.
Infelizmente, o momento que atravessa a nossa pátria não permite que nenhum brasileiro, que tenha olhos para enxergar, sensibilidade para entender, e consciência livre para indignar- se, possa declarar-se satisfeito. A pior das putrefações é aquela de cujo mal cheiro não
podemos nos proteger tapando o nariz, trata-se da degradação moral, que, sendo inodora não afeta os sentidos, mas fere a consciência, entristece a alma dos que não renunciam à condição de homens livres e de bons costumes, e acreditam, firmemente, que assim devem ser também os seus representantes.
Estamos diante de um desafio do qual não poderemos fugir, que é o de encontrar saídas para o nosso atraiçoado Brasil, sem cairmos na falsa tentação das soluções enganosas que apontam para rupturas institucionais, ou o recurso desesperado a salvadores da pátria, quase sempre mais à serviço das suas próprias ambições, e utilizando-se das enganosas narrativas de soluções fáceis para problemas complexos, que exigem muito mais do que meros discursos demagógicos,
A Maçonaria tem, sem dúvida um papel a desempenhar, mas por certo terá de ser marcado pela sensatez, pelo bom senso, pelo respeito intransigente à convivência democrática, ao pluralismo ideológico, à livre manifestação do pensamento, valores civilizatórios dos quais não podemos abrir mão, para não sofrermos ainda mais o escárnio internacional que enfrentamos, sendo identificados como um país dominado por uma facção criminosa do colarinho branco. O primeiro obstáculo a vencer, será nos libertarmos dessas facções clarificando a nossa sociedade e a nossa política. Gostaríamos que não fosse necessário tratar de temas como os tão desagradáveis que agora abordamos. Se não fizéssemos porem essas constatações e esses desabafos diante da cidadania agredida, do nosso povo desrespeitado, da nossa História ofendida, da nossa Constituição menosprezada, seríamos então coniventes, e como brasileiros e maçons não nos é permitido fugir ao nosso dever.
Queira o Supremo Arquiteto do Universo, queiram os nossos dirigentes regenerados, queira a força do nosso povo, que, ao comemorarmos aqui, em 2022 o nosso sesquicentenário, possamos festejar um Brasil livre do lamaçal, e daqueles que o enlamearam.
Que assim seja .
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