Desistências e não Comparências

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Desistências e não Comparências

Por que será que temos um nível tão elevado de desistências e/ou de não comparências em Loja?

Normalmente, o que nos leva a desistir de algo é um sentimento de expectativas não correspondidas, acompanhado pela sensação de que isso não irá ocorrer “em tempo útil”. Este sentimento aplica-se a tudo que fazemos já que é intrínseco ao processo de avaliação que permanentemente fazemos sobre tudo em que nos envolvemos. Todos criamos expectativas e as avaliamos face à realidade; desistimos quando achamos que a probabilidade de as nossas expectativas serem correspondidas é mínima ou inexistente, ou o “timing” para que se verifiquem é excessivo.

Ora isto leva-nos a uma segunda pergunta: quais são as expectativas que os candidatos têm e até que ponto consegue a Ordem responder? Naturalmente, há seguramente expectativas aos quais a Ordem não tem que, nem pode corresponder – estes são os erros de “casting”. Correspondem normalmente a candidatos com uma visão demasiado distorcida da Ordem, que os leva a criar expectativas muito próprias e/ou baseadas numa ideia de se servir em vez de servir.

Mas se considerarmos que temos candidatos que foram supostamente bem seleccionados pelos seus respectivos padrinhos; que foram supostamente bem avaliados pelos inquiridores e que foram supostamente bem escrutinados pelos Mestres da Loja, durante a votação, então os erros de “casting” deveriam ser mínimos – talvez não esteja aqui a resposta à pergunta.

O processo de avaliação do profano que se prolonga por meses e por vezes até por anos, aliado à “aura” de mistério e ao “secretismo” que são normalmente associados à Maçonaria, ajudam a potenciar ilusões, por mais fantasiosas que elas sejam, criando possivelmente expectativas ao qual a Ordem não consegue dar resposta, até porque embora cada um de nós construa o seu próprio Templo, a Maçonaria é só uma, não se podendo moldar aos desejos de cada um.

Assim sendo, talvez valha a pena olharmos para dentro, e para o fazermos talvez valha a pena partir de mais uma pergunta: O que é que nós fazemos como Maçons? Reunimo-nos duas vezes por mês, vestimos uns aventais, de preferência com ornamentos cintilantes, colocamos alguns símbolos e executamos um ritual – no final, discutimos se o ritual foi bem executado. Durante as sessões, há alguns assuntos que se destacam: discussão de regulamentos da Loja (a grande ou a nossa); leitura de comunicados, inquirições e respectivas votações; de longe em longe, a leitura de uma prancha, que não pode ser discutida, mas que é de bom-tom criticar; de longe em longe também, a discussão de algum assunto mais relevante, mas sempre virado “para dentro”. Isto é o que temos para oferecer aos neófitos – será que corresponde às suas expectativas? Ou será que esperavam uma Ordem mais activa, não no campo político ou religioso, mas social?

Quando tentamos responder à pergunta: O que é que a Maçonaria faz?, De exterior e de concreto, não temos quase nada; ou seja, quem procure a Maçonaria como uma via para a intervenção Social, para a ajuda o seu semelhante, dificilmente deixará de sentir que não está no lugar certo. Restamos esperar que “a construção interior de um homem melhor…” dê eventualmente alguns frutos; resta-nos também esperar que tenhamos a capacidade de fazer com que os recém iniciados percebam o mais precocemente possível o valor deste processo e que o valorizem de forma que permita suplantar eventuais outras expectativas não correspondidas.

Creio ser possível agrupar os candidatos em três grupos, em função das suas expectativas:

  1. Birutas, alucinados, tontos, sonhadores, negociantes e pessoas à procura de substitutos terapêuticos para o dominó no jardim: para este grupo, não temos nada que lhes possa interessar. Importa detectá-los o mais precocemente possível e desiludi-los – implica desde logo que os seus “padrinhos”tenham consciência disto e actuem em conformidade.
  2. Candidatos com um vertente mais espiritual: Creio ser fundamental mostrar-lhe o caminho, o método e acompanhá-los o melhor possível na sua progressão. É importante que reconheçam e valorizem as possibilidades de crescimento individual.
  3. Candidatos com uma vertente mais forte de solidariedade e ajuda ao próximo: neste momento, não temos uma resposta para este grupo e devemos tê-la – na minha opinião, há que criar grupos de trabalho que se dediquem a encontrar oportunidades para que a Maçonaria seja mais interventiva em termos sociais, evitando assim que seja unicamente vista como um grupo de pessoas que ninguém sabe o que faz, mas que eventualmente o que faz, é mais em função dos seus interesses, do que em benefício da sociedade.

À laia de conclusão deste texto que já vai longo, deixo ainda mais uma pergunta:

Como deve ser interpretada a quantidade de Mestres que tendo passado os dois graus anteriores, se afastam, muitas vezes continuando a pagar quotas, como se se quisessem afastar, mas não romper a sua ligação?

António Jorge – M:.M:. – R::L:.M:.A:.D:.

 

Fonte: freemason.pt

By | 2019-08-10T09:36:31-03:00 agosto 10th, 2019|Notícias|Comentários desativados em Desistências e não Comparências