Ao adentrar o Shopping Peixoto, gentilmente cedido pelo empresário Manoel Messias, a fim de participar da Bienal do Livro de Itabaiana, logo me transportei aos movimentos da Semana de Arte Moderna ocorrida no Brasil em 1922, resultado de uma série de eventos que marcaram a vida cultural brasileira nas duas primeiras décadas do século passado, quando Mário de Andrade, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Graça Aranha, Villa-Lobos, entre outros intelectuais, influenciados pelas ideias de vanguarda europeia, promoveram, em São Paulo, a Semana que deu início à renovação da mentalidade nacional e colocou o país na atualidade do mundo através do Modernismo.
Quiçá inspirados em momentos históricos dessa natureza é que os amigos Carlos Eloy Filho (FM Itabaiana), Honorino Júnior (Revista Perfil) e Jamisson Machado Gois (Itnet) uniram-se para realizar um grande sonho: inaugurar, em 2009, a Bienal do Livro de Itabaiana, somando-se a dois curadores enamorados pela cultura: Domingos Pascoal de Melo e Antônio Saracura, membros da Academia Sergipana de Letras, apoiados por escritores, artistas, editores e outros segmentos da sociedade.
Como sabemos, livro é algo muito especial e move montanhas ao longo do tempo. E é exatamente isso que vem acontecendo em Itabaiana com a chegada desse evento extraordinário que movimenta estudiosos. Por isso, vejo-me na obrigação de ressaltar o belo momento que vivenciamos na semana da Bienal dessa admirável cidade, onde inúmeros autores tiveram a oportunidade de mostrar seus trabalhos com o apoio de sua gente tão acolhedora.
Conduzido pela insigne jornalista Susane Vidal, o cerimonial teve grande destaque na abertura, com a primorosa interpretação do Hino Nacional Brasileiro pela cantora Amorosa, emocionando a todos que se aglomeravam no Cine Peixoto, numa demonstração de que o sentimento de brasilidade permanece no coração dos que amam este país, não obstante a crise moral e ética por que ele passa.
Os aplausos dos participantes e convidados não se devem apenas à continuidade da Bienal, evento que, por si, já seria uma notícia profícua, mas, sobretudo, pela pluralidade e abrangência do que se oferece ao nosso povo carente de incentivos que elevem a alma do cidadão.
A Bienal do Livro de Itabaiana fortalece o potencial de volvermos os olhos do mundo para a nossa cultura, numa mostra de que vale a pena investir na educação e em projetos que estimulem a leitura e o conhecimento, como tem feito o Prof. Jorge Carvalho e voluntários que se colocam como amigos da produção literária, já que a Bienal nos permite um novo exercício de vanguarda no estado de Sergipe.
Ao fazer uso da palavra, o Prof. Jouberto Uchôa de Mendonça, patrono da Bienal, traduziu em seu discurso, o sentimento de itabaianidade, ao dizer de seu orgulho por ter sido adotado filho dessa terra tão progressista, que caminha independente, e que mesmo não gozando da prerrogativa de ser banhada pelo mar, não se intimida ao crescimento.
Esse encontro foi uma aula de que a leitura promove inspiração, restaura a alma, estimula a criatividade. Permite-nos uma viagem sem precedentes e até nos transporta à felicidade.
Sou grato pela generosidade da escolha do meu nome, em meio a tão honrosa plêiade de sergipanos, para receber o símbolo da Bienal. A condição de homenageado com o Troféu Falcão de Ouro passa-me uma enorme responsabilidade – de honrar o tributo recebido e do comprometimento de estar à disposição para contribuir e fomentar o crescimento desse importante e notável evento.
Além da honraria, levo comigo que a Bienal do Livro de Itabaiana é um dos maiores presentes que os sergipanos recebem numa época carente de leitura, não obstante os bons livros de que dispomos e os que têm sido lançados. Reitero os cumprimentos aos organizadores e a todos aqueles que têm dado seu apoio a essa nobre causa. Sinto-me deveras honrado em receber este prêmio, de grande relevância para a minha vida pessoal e profissional, pois o “Falcão de Ouro” tem um significado muito profundo, a partir da sua produção por um grande artista – o escultor Zeus –, e nele carrega um poder ainda maior: o de mudar a realidade atual, o de proporcionar aos jovens de hoje e às futuras gerações o conhecimento, a preservação da nossa história, os saberes locais, enfim, muitos outros valores que seriam necessárias inúmeras páginas para os elencar.
Precisamos afastarmo-nos do inconformismo e desejar que personagens aguerridos como Sílvio Romero, Thetis Nunes, Tobias Barreto, entre outros sergipanos, possam continuar a nos inspirar na seara da cultura.
Que venham outras bienais e que se avolumem os aficionados por tão grandioso evento, pois esse não é mais uma Bienal do Livro de Itabaiana, mas de Sergipe e do Brasil!
Rusel Barroso*
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*Professor, escritor e pesquisador, fundador da Academia Lagartense de Letras, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, integrante do Comitê Gestor do Centro Universitário UniAGES, membro do MAC da Academia Sergipana de Letras e da Associação Sergipana de Imprensa.
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