A prática da dinâmica de grupo na Maçonaria

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A prática da dinâmica de grupo na Maçonaria

É no debate, na actividade em grupo que o ser humano, considerando os seus valores e princípios, acumula conhecimentos em resultado da experiência da vida em grupo. Esta experiência de vida em comum com as pessoas tem carácter de transmitir complicados processos de pensamento em resultado da reciprocidade dos processos da comunicação humana. Isto acontece na divisão do trabalho e na organização social, e principalmente numa sessão maçónica, onde os homens se reúnem para discutir temas e com certeza sempre saem de uma reunião com pensamentos individuais melhorados. Sobressai o património cultural da comunidade e cada indivíduo é enriquecido de forma surpreendente. Todos os participantes beneficiam do esforço intelectual de cada membro do grupo.

Uma analogia simples é comparar as actividades do pensamento ao facto de vivenciar que é da reunião de pequenas poupanças que surge o desenvolvimento social. São exemplos: as instituições bancárias, as empresas de investimento, cooperativas, sociedades anónimas, e outras. Basta estender este raciocínio para o trabalho em grupo de um debate bem dirigido. Os debates da Maçonaria funcionam qual cooperativa intelectual; todos ganham dividendos imediatos em resultado da sua produção em equipa. Somam-se as experiências individuais e cada participante passa a ser depositário do conhecimento dos demais participantes.

Quando se cria em Loja um processo sistemático de transmissão de experiência, além de transformar os momentos de reunião em algo prazeroso ela se torna rentável até em termos financeiros porque os dividendos do investimento intelectual ocorrem imediatamente se a experiência acumulada em resultado do somatório das experiências individuais for colocada em prática. É onde o Maçom se torna homem de acção e progride no seu meio social. Desenvolver os processos mentais não é tarefa individual, algo que se possa efectuar com sucesso longe do convívio social: o acumulo de conhecimentos é um processo colectivo e a sua aplicação é individual; dependendo apenas de como cada participante aceita mudar a si próprio; é a prática do famoso “conhece-te a ti mesmo” de Sócrates.

O interessante destes procedimentos é a ascensão de uma nova era de transmissão de experiências. Com isto desaparece a figura do professor, do ministro, do sábio, e prevalece a força do grupo sem a ocorrência de desperdícios da experiência acumulada. O coordenador de um grupo de debate não é professor ou chefe. Os debates devem nivelar a loja; todos os degraus e balaustradas devem sumir para que aconteça a igualdade do grupo. O coordenador é quem menos fala, mas pode ser aquele que detém maior conhecimento sobre o assunto em questão. Quem debate são os membros do grupo, o coordenador é mero participante em pé de igualdade e tem autoridade apenas para ceder a palavra ou retornar o debate ao tema quando eventualmente ocorre desvio. Com a participação activa de cada membro no debate, os participantes passam a gostar cada vez mais das actividades culturais porque é a essência do ócio criativo defendido por Domenico de Masi.

No debate desaparecem as cercas divisórias incutidas pela divisão do trabalho da sociedade que dá aos participantes classificações como: engenheiro, médico, balconista, arquivista, e outros. Estas designações funcionam como etiquetas que são afixadas a cada cidadão e muitas vezes os fazem despercebidos no meio social em que vivem, como é o caso das actividades mais humildes, mas extremamente importantes como por exemplo: garis, faxineiros, copeiros garçons, e outros. O debate em loja tem o objectivo de eliminar estas diferenças e propiciar a participação de todos em pé de igualdade. Vale o poder do pensamento. E é desta diferença cultural que o grupo de debate se vale para melhorar cada um dos seus participantes. São eliminadas as estereotipadas diferenças burocráticas e enaltecidos os valores de cada indivíduo.

Todos os maçons são cultos na base experimental de valores e princípios. Todo homem é culto. Por vezes o mais humilde participante de um grupo de debate é o que mais contribui com experiência ao tema que está em discussão. Frequentemente é dos calados e humildes que afloram as melhores soluções ao tema que está em discussão. Dai um dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito afirmar que o conhecimento não é questão do cargo, mas resultado do espírito colaborativo que surge num grupo de debates. Num debate ninguém dorme. Não existem as aulas ministeriais, desaparece a figura do doutor e do professor; todos são iguais conforme estipulado pelo dístico: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Comparando a actividade oratória numa palestra com um vibrante debate entre diversos irmãos: com cinco minutos de oratória as mentes dos ouvintes iniciam um processo de divagação, em sete minutos desvio para outros pensamentos, em dez minutos acontece bloqueio total das palavras do orador, o ouvinte pode chegar até a dormir; resultado: pouco é aproveitado por se tratar de actividade passiva. Num debate isto não acontece. Todos ficam ligados ao debate porque podem ser accionados a qualquer momento a se pronunciarem sobre o assunto e só esta expectativa mantém todos vigilantes a activos; resultado: muito do conhecimento compartilhado é aproveitado pelos elementos do grupo.

Numa loja maçónica existe o ambiente propício para o desenvolvimento de debates produtivos e motivadores porque as sessões estão pautadas em: Disciplina treinada de falar um de cada vez, sem apartear o orador que está com a palavra; O princípio da autoridade calcada na hierarquia que todos respeitam e obedecem; não degeneração em sufocação da liberdade ou coacção; A hierarquia não impede que os membros se considerem pessoas livres e questionem ordens – sem questionamento desaparece a responsabilidade; Homens motivados em serem amigos da sabedoria (“Philos” e “Sóphia”), o filosofar maçónico que faz a todos crescerem muito além daquilo que cada um tem em si antes de adentrar ao templo; personalização do indivíduo – são construídos homens diferentes de instrumentos de uma linha de produção ou simples executores de ordens; Conscientização da necessidade de participação de indivíduos menos cultos; grupo que desenvolve um ambiente amoroso e fraterno; princípio da igualdade; obediência às leis e regulamentos; e outras características.

As sessões com debates atraem as pessoas porque cada obreiro sai fortalecido e renovado da reunião para as suas actividades do quotidiano. Torna-se mais astuto na convivência com outras pessoas, fugindo às demandas improdutivas e com isto cresce no meio social. Tal disposição mental é resultado da convivência e do treino a que se sujeita dentro da loja em debates onde a sua capacidade intelectual vive em constante desafio para montar o pensamento para o bem da comunidade. E como construtor da sociedade o Maçom obtém sucesso no seu meio social e dá honra e glória ao Grande Arquitecto do Universo.

Charles Evaldo Boller

Bibliografia

  • ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni, História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média, Volume 1, ISBN 85-349-0114-7, primeira edição, Paulus, 670 páginas, São Paulo, 1990;
  • BERKENBROCK, Volney J., Dinâmicas para Encontros de Grupo, ISBN 978-85-326-2916-6, primeira edição, Editora Vozes limitada., 148 páginas, Petrópolis, 2008;
  • LIMA, Lauro de Oliveira, Dinâmicas de Grupo, na Empresa, no Lar e na Escola, Grupos de Treinamento para a Produtividade, ISBN 85-326-3151-7, primeira edição, Editora Vozes limitada., 310 páginas, Petrópolis, 2005;
  • MASI, Domenico de, Criatividade e Grupos Criativos, título original: La Fantasia e lá Concretezza, tradução: Gaetano Lettieri, ISBN 85-7542-092-5, primeira edição, Editora Sextante, 796 páginas, Rio de Janeiro, 2003;
  • MASI, Domenico de, O Futuro do Trabalho, Fadiga e Ócio na Sociedade Pós-industrial, título original: Il Futuro del Lavoro, tradução: Yadyr A. Figueiredo, ISBN 85-03-00682-0, nona edição, José Olympio Editora, 354 páginas, Rio de Janeiro, 1999;
  • MASI, Domenico de, O Ócio Criativo, tradução: Léa Manzi, ISBN 85-86796-45-X, primeira edição, Editora Sextante, 328 páginas, Rio de Janeiro, 2000;
  • RUSSELL, Bertrand Arthur William; MASI, Domenico de; LAFARGE, Paul, A Economia do Ócio, ISBN 85-86796-87-5, primeira edição, Editora Sextante, 184 páginas, Rio de Janeiro, 2001.

Fonte: freemason.pt

By | 2020-01-24T18:35:48-03:00 janeiro 25th, 2020|Notícias|Comentários desativados em A prática da dinâmica de grupo na Maçonaria