Estamos a deixar a nossa história passar sem a ouvir
Em Fevereiro fui convidado para falar na Loja Schenectady nº 1174 em Schenectady, Nova York. Depois, fui abordado pelo irmão James (Jim) Simpson, que partilhou o seu interesse sobre o tema da minha apresentação: “O ponto dentro de um círculo”. Jim chamou-me à minha atenção, já que é um membro mais velho, o tipo de irmão que nos deixa com a impressão de que tem um (Publicado em freemason.pt)conhecimento profundo da Arte, dos seus símbolos e história. Trocámos informações de contacto. Foi no início de Março que abri o pacote como seu primeiro trabalho, “Os Trinta e Três Graus da Maçonaria“.
O que me chamou primeiro à atenção foi que todas as 12 páginas, incluindo a página de título e a bibliografia, estavam manuscritas. Para uma criança que cresceu na década de 1980 e escreveu para os colegas de correspondência, não me lembro da última vez em que abri uma correspondência nos últimos cinco anos que fosse manuscrita. Continuei a ler.
“Existem 33 graus no Rito Escocês Antigo Aceite. 33 é um número místico com algum significado numérico inerente?”
Fiquei fascinado. Eu li o artigo inteiro naquela tarde quando cheguei em casa depois do trabalho. O irmão Jim também incluiu fotocópias da documentação em que se apoiou para fazer a sua pesquisa. Como estudante de pós-graduação, senti que estava a ler um trabalho de nível universitário.
Em Abril, chegaram mais dois manuscritos pelo correio.
No final de Junho, recebi outro pacote, já familiar, que incluía a nota: “Irmão Michael, em anexo, envio a minha última apresentação. Sei que a vai achar interessante. Irmão Jim.” Ele tinha-me enviado os “Segredos Perdidos da Arca Sagrada”. Eu li o artigo antes de jantar e imaginei todas as lições da escola dominical da minha infância enquanto lia o seu trabalho. Naquela noite, antes de dormir, coloquei um lembrete no telefone para ligar para o irmão Jim na manhã seguinte; eu queria saber a sua história.
Na manhã, liguei para o irmão Jim, para sua casa; eu tinha duas perguntas para lhe fazer. Em primeiro lugar, eu queria pedir a sua permissão para partilhar o texto do seu trabalho no site The Midnight Freemasons. Ele respondeu-me um entusiasmado “SIM!” Eu pretendia fazer exactamente isso hoje, mas a sua resposta à minha segunda pergunta dificultou resumir a discussão de uma hora que partilhamos, num parágrafo. A minha segunda pergunta foi: “Porque é que se juntou à Maçonaria tão tarde na vida?”
O irmão James Simpson tem “quase” 80 anos de idade. Quando ele aceitou o meu telefonema pouco antes do fim de semana do Dia da Independência, disse “estou a fazer um hiato neste Verão porque a minha mente está a ficar cansada“. Devido aos detalhes dos seus documentos, imagino que ele seja um desses irmãos que tem uma biblioteca maçónica pessoal que ocupa um quarto da sua casa. “Eu até tenho a minha própria máquina de fotocópias“, respondeu, depois de rir da minha sugestão. Ele aposentou-se e mora com a esposa, de quem cuida amorosamente; teve de cortar o nosso primeiro telefonema naquela manhã, porque ouviu que a sua esposa estava acordada, e queria ver como ela estava e precisava de ir fazer alguns recados naquela manhã.
Entretanto, voltei a reler os papéis que ele me enviou. Comecei a destacar partes que talvez eu pudesse perguntar na nossa chamada seguinte. O detalhe do seu trabalho, era impressionante. fiquei também impressionado com o seu estilo de escrita ou sua voz – ele escreveu como falou, claro e conciso. Ele foi capaz de agarrar a história bíblica antiga ou as ideias esotéricas dos chakras e explicá-las aos não informados. Fiquei surpreso ao saber que o irmão Jim mal conseguiu fazer o ensino médio. Na nossa segunda chamada naquela tarde, continuou com a sua resposta à minha pergunta sobre porque é que se juntou à Fraternidade tão tarde na vida.
“Eu sou originalmente de Boston e não sabia nada sobre a Maçonaria. Eu cresci em uma família pobre. Onde quer que eu fosse, via anéis maçónicos. Eu tinha 21 anos quando vi o templo em Boston. Fiquei fascinado. Perguntei a um homem que usava um anel maçónico que estava a tomar uma chávena de café sobre o prédio; eu queria saber sobre os maçons. Ele afastou-se e disse: “É um segredo”. Eu comecei a (Publicado em freemason.pt)cuidar profissionalmente de um bar alguns meses depois, e os anos passaram. Mais tarde, conheci um Maçom quando trabalhava para o Estado de Nova York, e foi assim que aderi. Gostaria muito de ter aderido mais cedo”, explicou Jim. Ele foi elevado em 2007. Maçonicamente, ele é apenas um punhado de anos mais velho do que eu. Isto originou outra risada.
O que também me surpreendeu foi que ele começou a escrever há cerca de cinco anos atrás. Depois de ter sido iniciado, começou a ler e não parou. Ele tinha tantas ideias que queria partilhar o seu conhecimento. Isto começou com “parágrafos rabiscados que eu lia na minha Loja Azul“, disse. E como é que as suas ideias foram recebidas? Foi retribuído com pouca discussão. “Isto foi praticamente o fim. Não há discussão porque o orador é o único que fez a leitura sobre o assunto. Mas, outros virão até si e agradecerão por partilhar o assunto. (Assim como ele fez comigo) Não desanime! Todos os Irmãos que conheço estão interessados em se tornar mais conhecedores do Ofício, já que isso se relaciona com a sua posição na Loja“. Ele não foi o primeiro, nem, infelizmente, o último, a saber que alguns dos pensamentos esotéricos da maçonaria e da história antiga, por vezes não se conseguem conectar com os Irmãos.
No meu caso, o ritual de aprendizagem foi o que me levou a buscar aquela Luz adicional que me foi prometida. O meu momento chegou quando eu estava lendo a Palestra Histórica de primeiro grau, e queria aprender mais sobre O Ponto Dentro de um Círculo. Mal sabia eu que acabara de receber um dos muitos Jackpots Maçónicos do conhecimento. Eu passei intervalos para o almoço a assistir a vídeos do YouTube, comecei a procurar por textos sobre o assunto e comecei a pedir a outros Irmãos pelas suas ideias. Agora eu tenho uma prateleira na minha estante cheia de recursos sobre o assunto. “Eu gostaria de ser muito mais jovem. Eu teria lido tudo sobre o ritual“, disse o irmão Jim. Havia um tom de pesar na sua voz. “Eu gostaria de dedicar mais atenção ao ritual de aprendizagem. Tenho quase 80 anos, e então tive que dividir o meu tempo a aprender com livros“.
Eu vou converter os papéis do irmão Simpson para texto, e minha esperança é partilhá-los consigo como os for recebendo. Ele é uma das muitas Jóias escondidas da nossa Arte. É importante para mim que a biblioteca da história na sua mente, os manuscritos que ele partilha livremente com (Publicado em freemason.pt)qualquer Irmão interessado, que o seu conhecimento continue a estar acessível. Eu entendo, nem todos os maçons buscam a Luz adicional que nos foi prometida na iniciação – mas devemos. Todos nós começamos como Aprendizes, com o desejo de conhecer e aprender. Precisamos de garantir para as gerações futuras a disponibilidade daqueles “rabiscos” que podem desencadear grandes ideias ou pensamentos para toda a Arte.
Michael Arce
O texto original pode ser lido AQUI
Tradução de António Jorge
Fonte: freemason.pt
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