Maçonaria não é religião?
Veio-me á baila este tema por conta de uma decisão do departamento jurídico de uma prefeitura da nossa região, que justificou o indeferimento do pedido de isenção de IPTU para o templo de uma Loja Maçónica da cidade. “A Maçonaria não é uma religião, como os próprios maçons sustentam. Assim não cabe invocar a isenção do art. 5o inciso VI da Constituição Federal para isentar do Imposto Sobre Propriedade Territorial Urbana o que eles chamam de Templo, já que esse edifício, tradicionalmente chamado de Loja, é um lugar onde eles se reúnem para tratar dos assuntos da sua Associação, mas não para praticar qualquer tipo de culto, que possa ser associado a uma religião”, escreveu o profissional que redigiu o arrazoado.
Os nossos Irmãos dessa Loja naturalmente ficaram danados da vida, pois a isenção do IPTU para o seu Templo era coisa que já se tinha transformado em tradição. Mais ainda porque o tal parecer tinha sido assinado por um Irmão daquela Loja. Quando perguntaram a minha opinião sobre o assunto, dado que a minha actividade profissional, por muito tempo esteve ligada ás lides tributárias (como auditor da RF e depois como consultor empresarial nessa área), eu respondi que o Irmão que dera o parecer tinha razão. E justifiquei dizendo que nós não podíamos dar duas interpretações a um mesmo conceito: um quando se tratasse de nos favorecer e outro quando nos prejudicasse.
Afinal, por séculos a fio, desde quando a Maçonaria se tornou uma instituição, nós temos dito, enfaticamente, que a Maçonaria não é religião. Não podíamos agora, por conta de uma isenção tributária, transformá-la em uma.
Achei interessante o assunto porque eu estava naquela Loja a convite dos Irmãos justamente para falar dos antecedentes filosóficos da Maçonaria, ou seja, do ambiente cultural que deu origem ao movimento maçónico propriamente dito, tal como ele emergiu do século XVI – a partir das associações dos construtores profissionais – para ganhar a simpatia dos intelectuais e das pessoas bem nascidas em todos os países da Europa, sacudidos pelos ecos da Reforma Protestante e da Renascença cultural e artística, que no seu bojo trazia também uma nova forma de viver e de pensar. E isto serviu-me de gancho para abordar este assunto que ainda hoje constrange e deixa perplexos muitos Irmãos justamente pela dificuldade que o tema encerra.
Maçonaria – um ramo da Reforma Protestante
A mentalidade que deu origem ao pensamento maçónico – tal como ele surgiu e ganhou corpo no início do século XVII – é, claramente, uma obra de pensadores místicos, de mentalidade reformista, que surgiram durante o século XIV, fortaleceu-se durante o século XV e finalmente amadureceu e se tornou uma verdadeira escola durante o século XVI. Foi produto da desintegração da influência que a Igreja Católica manteve sobre o pensamento europeu durante toda a Idade Média e da própria perda de poder político dos seus líderes em razão da sua própria corrupção. É um processo que começou com os conflitos que opuseram os papas contra os monarcas das diversas nações europeias logo após o término das Cruzadas, conflitos esses que tinham como origem uma clara disputa de poder [1].
Já nessa época, uma plêiade de intelectuais e artistas começavam a ensaiar o nascimento de uma tendência cultural, que dois séculos mais tarde iria abastecer os dois grandes rios do pensamento moderno, que foram a Reforma Protestante e a Renascença [2].
Embora essa afirmação possa ser contradita por vários exemplos históricos, inclusive bem documentados, para nós não resta dúvida que a Maçonaria moderna é, sem sombra de dúvida, como bem viu Marius Lepage, um episódio da Reforma. Quer dizer, não que ela tenha nascido a partir da Reforma Protestante, mas sim que aproveitou o ímpeto reformista para se transformar num movimento filosófico e político de carácter mundial [3]. Esta transformação aconteceu tomando por base a tradição das antigas guildas de profissionais medievais – em particular os construtores de edifícios sacros -, fundindo-a com o pensamento rosacruciano que encantou os intelectuais no inicio do século XVI [4].
Quase nada se sabe sobre a antiga Maçonaria, dita Operativa. O pouco que resta dessa antiga prática iniciática e corporativa são alguns fragmentos de documentos relatando as tradições e os costumes desses antigos maçons que construíam igrejas e outros edifícios de finalidade sacra, com um ardor e um espírito quase religioso [5]. A acreditar-se em Fulcanelli, e também René Guénon, o maçon medieval era um iniciado, que muito além da sua fé no credo católico, vivia num mundo de magia e misticismo, que ele tentava reproduzir na sua profissão, elevando-a à categoria de Arte do espirito, tanto quanto o era a alquimia [6].
Destarte, a arquitectura medieval, tal como a alquimia, seria uma espécie de prática ascética que além de buscar resultados práticos nos seus respectivos campos de actuação – a construção de edifícios sacros e a manipulação química dos minerais – proporcionaria ao seu operador uma forma de preparar os seus próprios espíritos para uma ascese (iluminação), que segundo a Igreja, só podia ser obtida através da prática da doutrina cristã, orientada pela Igreja católica. Santo só quem fosse católico e perfeito na prática das virtudes teologais. Iluminação, reforma espiritual, conhecimento para além do racionalismo científico e da mera especulação filosófica tomista ( doutrina de São Tomás de Aquino), e a derrubada de todos os dogmas religiosos que aprisionavam o espírito humano, foi a grande promessa dos Irmãos Rosacruzes, que no início do século XVI, concomitante com a verdadeira revolução á que a rebelião de Martinho Lutero deu início, viriam a provocar uma verdadeira febre de misticismo e um enorme anseio de liberdade de pensamento por toda a Europa. É deste caldo cultural que nasceria a Maçonaria que nós chamamos de moderna, pois ela, sobre o manto da antiga prática dos maçons medievais, criou uma estrutura completamente nova, que se não pode ser chamada de religião, pelo menos constitui uma prática para religiosa que incomoda muito (ainda hoje) as chamadas religiões oficiais, que nela vêem fumos de heresia e conspiração, tal como no inicio da Reforma Protestante, todo grupo que manifestasse simpatia pela nova tendência de pensamento era carimbada com essa pecha [7].
A Maçonaria moderna e os seus inspiradores
Se a antiga Maçonaria dos construtores medievais era uma espécie de sindicato que congregava os profissionais da construção, usando práticas místicas e iniciáticas, muito a gosto da cultura da época, a Maçonaria moderna, que nasceu da fusão entre os membros dessas associações com intelectuais, militares, nobres, cientistas e outras pessoas bem nascidas na Europa, pode ser considerada um movimento ecuménico que congrega pessoas de todas as tendências religiosas, políticas e culturais. Estas pessoas reúnem-se em torno de uma ideia utópica que já estava presente no pensamento de vários filósofos renascentistas e dos próprios cultores do pensamento Rosacruz, como bem expressa o próprio Johan Valentin Andreás (provável autor dos chamados Manifestos Rosacruzes), quando fala de uma “Nova Ordem Mundial”.
Esta nova Ordem Mundial seria tema de outros famosos trabalhos, de nomeados autores, que atravessaram os séculos e ainda hoje são fonte de influência para muitos espíritos. Alguns desses trabalhos e autores são comumente citados em vários rituais e na tradição litúrgica desenvolvida nas Lojas dos maçons, porque neles se reconhecem algumas das mais interessantes inspirações da prática maçónica. Obras como a Cidade Mágica do Sol, de Campannella, Novum Organum, de Francis Bacon, Utopia, de Thomas Mórus, são alguns dos trabalhos que antecipam a estrutura pretendida pelos “pais” da Maçonaria moderna, no sentido de criar um movimento internacional que pudesse levar ao mundo todo o sonho de uma nova ordem mundial [8].
Entre estes, talvez o mais influente de todos tenha sido o filósofo Giordano Bruno. Em muitos aspectos, ele foi o precursor dos chamados pensadores rosacrucianos que desenvolveram o conteúdo espiritualista da Maçonaria moderna.
A filosofia de Bruno procura revalorizar as antigas religiões solares, que a Igreja de Roma tinha banido do espirito ocidental, empurrando-as para o rol das heresias. Para ele o que conferia diferentes graus de divindade ás coisas e às pessoas era a presença de “luz” nelas. Por isso a grande valorização que ele dava ao simbolismo do sol e da lua, os dois corpos luminosos mais relevantes e próximos á terra [9].
Esta era razão da influência que esses corpos celestes sempre exerceram sobre o espirito do homem e o facto das religiões antigas terem neles a sua razão de existência e princípios de funcionamento. Segundo as suas próprias palavras,
“nos dois corpos que estão mais próximos do nosso globo e divina mãe, o Sol e a Lua, eles concebem o que é a vida e o que informa as coisas segundo as duas razões principais. E entendem a vida segundo sete outras razões, distribuindo-as á sete outras estrelas errantes, que, como no principio original e na causa fecunda, reduzem as diferenças em espécie em cada género, dizendo das plantas, animais, pedras, influências e outras coisas, que umas pertencem a Saturno, outras a Júpiter, outras ainda, a Marte e assim por diante [10].
Neste discurso hermético, muito a gosto dos filósofos dessa escola, está expressa a cosmogonia de Bruno e o fundamento da reforma religiosa da qual ele pretendia ser o arauto. Era uma reforma que devolveria a antiga religião egípcia ao lugar de proeminência que nunca deveria ter perdido, pela sua substituição pelo cristianismo. A religião egípcia, na cabeça de Bruno, era a religião do intelecto, da inteligência, da sensibilidade, que tinha evoluído, com os ensinamentos de Hermes Trismegisto, para além do culto solar, penetrando numa divina “mens”(sabedoria), que, no seu conceito, aproxima-se das modernas teses dos cientistas do átomo (os novos gnósticos), segundo os quais o universo é produto da transformação de energia em matéria, por força da pressão interna que essa mesma energia exerce sobre si mesma [11].
A religião que Bruno pregava era a verdadeira Gnose, a única capaz de unir o profano ao sagrado. Essa religião tinha sido, no seu entender, suprimida pelos “falsos mercúrios” (os teólogos cristãos), em proveito de uma teologia pobre, que nada mais era que uma grosseira degeneração de uma religião superior.
Foram sem duvida, afirmações como estas que o levaram à fogueira. Ele acreditava que a antiga religião egípcia, por se fundamentar na adoração da verdadeira divindade através das suas manifestações nas coisas, proporcionava um estado ideal de ordem, harmonia e felicidade na terra, pois ela permitia ao homem uma verdadeira simbiose com tudo que havia na criação. Se o elo entre tudo era a luz, se tudo era luz, e tudo estava em tudo, então havia uma verdadeira unidade no universo como reflexo daquele que era Um, o Pai das Luzes.
Este pensamento permitia o desenvolvimento de um governo humano baseado no principio da Maat, a deusa que no panteão egípcio representava a Justiça, pois num universo uno não haveria lugar para estratificações. Por outro lado, restabelecia o culto por meio de uma simbologia que a liturgia cristã tinha banido em proveito de uma ritualística vazia de conteúdo místico e pobre em interesse esotérico, que constitui a essência de toda religião.
Giordano Bruno e a Maçonaria
O interesse nas ideias de Giordano Bruno, para qualquer estudo que envolve a Maçonaria, reside principalmente no facto de que a sua reforma religiosa consiste num sistema onde os vícios são expulsos pela virtude [12]. Na mística do seu sistema isto dá-se naturalmente através dos deuses. Na cosmogonia bruniana o movimento vicio-virtude vai povoando o espaço á medida que os deuses reformam os céus. A vitória final da antiga religião, por ser uma religião baseada na virtude, seria o corolário dessa reforma.
A reforma religiosa de Bruno é um verdadeiro discurso iniciático. Nele os deuses, (Júpiter, Apollo, Saturno, Neptuno, Isis, Marte, etc.), são todos símbolos de virtudes e poderes da alma. Como o homem é uma representação do universo, (um holom, na linguagem os novos gnósticos), a “reforma no céu” feita pelos deuses reflecte também na terra, influenciando o psiquismo humano. Na medida em que um deus, (ou uma virtude), ocupa um lugar nos “céus”, o universo divino recompõe-se e isso ressoa também na terra através da alma humana. Assim, as personalidades na terra vão sendo moldadas e quando a “reforma nos céus estiver completa, o homem também será um homem novo, reformado segundo o movimento dos deuses nos céus”.
A personalidade boa é a personalidade solar. Quando o sol ocupa o centro do universo, isto é, quando a luz está no centro, ela irradia por todos os lados. Por isto, quando o universo estiver a transbordar de luz, o reino da ordem, da harmonia, da justiça e felicidade será finalmente instalado.
O fundamento espiritual das ideias de Bruno é a iniciação gnóstica e a forma de realização da espiritualidade é a alquimia. Ambas realizam transmutação essencial. Os próprios homens estão sujeitos a essa lei da transformação. Os espíritos precisam ser transformados pela luz da iniciação. E daí Bruno define a personalidade do novo homem que resultaria dessa “reforma”:
“serão homens necessários á comunidade, hábeis nas ciências especulativas, cautelosos na moralidade, solícitos no zelo e no auxílio de um ao outro, mantendo a sociedade (para a qual são prescritas todas as leis) pela proposição de certas recompensas aos benfeitores e pela ameaça aos criminosos de certas punições “[13].
A analogia com os textos maçónicos que transmitem a ideia de uma renovação espiritual através da prática maçónica é bastante sugestiva. Veja-se que a descrição do homem novo de Bruno se encaixa perfeitamente nos moldes da Ordem. Num dos mais importantes graus do Rito Escocês serão exactamente essas características que serão destacadas. Em todos os graus da “Escada de Jacó” serão encarecidas aos maçons a aquisição de virtudes associadas com o estudo, a moral, a ética, o zelo e a lealdade recíproca, como garantia de sobrevivência da Fraternidade, e principalmente um grande anelo pela prática da Justiça. É difícil não pensar que tais influências não tenham sido pescadas directamente no fértil rio do pensamento bruniano. Então, prossegue o filósofo,” Hércules descerá a terra para realizar as boas obras” Quando se sabe que um dos mais importantes graus maçónicos fundamenta os seus ensinamentos nos Doze Trabalhos de Hércules, é difícil refutar que tal inspiração não tenha nada a ver com esse simbolismo.
As ideias de Giordano Bruno representaram uma grande abertura para o pensamento místico-liberal que encantou muitas gerações de intelectuais. Até o século XIX os intelectuais de orientação espiritualista o adoravam. Por isso é que advogamos a influência desse grande pensador sobre os homens que deram a Maçonaria a conformação que ela adquiriu a partir do início do século XVII, quando membros do grupo rosacruciano começaram a fazer parte das Lojas de Companheiros especulativos.
Como se pode perceber, as ideias eram as mesmas. O Templo da Sabedoria, (O Templo de Salomão), simbolicamente, fora construído primeiro entre os egípcios e os caldeus, de onde os hebreus foram buscar as bases da sua cosmogonia. Depois a ideia passa pelos persas de Zoroastro, pelos trácios com Orfeu, entre os gregos com Tales de Mileto, entre os italianos com Lucrécio e Vitrúvio, pelos alemães com Copérnico e Alberto Magno etc. O recurso á geometria como demonstração dos atributos da divindade é uma das suas ferramentas. “Deus é uma esfera cujo centro está em toda parte e cuja circunferência está em parte alguma ” diz ele.
Parece a definição do templo maçónico, que corresponde a todo universo. Deus é o Uno, o Perfeito, o Número que contém todos os números. O contacto entre o profano e o divino dá-se através dos ritos apropriados que elevam o homem as alturas; ao mesmo tempo faz a divindade descer ao mundo. A iniciação é parte desse processo; só o iniciado pode pretender essa elevação. A Cabala é a ciência das combinações divinas. Por ela se pode chegar ao conhecimento do Nome Inefável, fonte da Gnose divina [14].
As três virtudes teologais, amor esperança e caridade, que os católicos consideravam as virtudes guias da religião, Bruno somou a mathesis e a magia, como essenciais a esse conjunto [15].
Eis ai, na filosofia do mago renascentista, todo o estofo do que viria a ser, dois séculos mais tarde, a Maçonaria moderna.
Ainda a propósito da obra de Giordano Bruno, conclui a Prof. Frances Yates:
“Onde mais existe igual combinação de tolerância religiosa, vinculada emocionalmente ao passado medieval, com uma ênfase nas boas obras, além de um imaginativo apego á religião e ao simbolismo egípcio? A mim ocorre uma única resposta: na Maçonaria, herdeira da ligação mítica com os maçons medievais e com a sua tolerância, a sua filosofia e o seu simbolismo egípcio. Só apareceu na Inglaterra, reconhecível como instituição em meados do século XVII. Mas teve, decerto, os seus predecessores, antecedentes e talvez tradições, que se reportavam a um passado muito remoto. Este porém, é assunto muito obscuro. Aqui caminhamos nas trevas, mas podemos conjecturar se, entre as pessoas espiritualmente insatisfeitas na Inglaterra, alguma não teria ouvido, na mensagem “egípcia ” de Bruno, um prenúncio de alívio, ou dos acordes da Flauta Mágica que em breve soprariam no ar [16].
Certamente a professora Yates tem razão. A Maçonaria que emergiu do século XVII tem tudo a ver com o “socialismo mágico” de Bruno e dos hermetistas da Renascença. A sua reforma moral da humanidade, que ressuscitava a velha ideia egípcia da Maat, era uma solução, ao mesmo tempo antiga e nova, para o problema que a Europa enfrentava justamente naquele momento. Faria desaparecer as dificuldades religiosas, ao passo que também educaria o carácter do homem para construir e viver um novo tipo de sociedade.
Conclusão
O momento que estamos vivendo, neste início do século XXI, sugere-nos muitas analogias com aqueles vividos pela Europa nos princípios do século XVII, quando surgiu a Maçonaria moderna. Crise religiosa, conflitos políticos, desagregação de antigas tradições, morte e descrédito de instituições, epidemias, pandemias e outros acontecimentos que estamos vivendo hoje são indícios de grandes modificações na história da humanidade. Naqueles antigos dias o surgir do movimento maçónico num âmbito mundial foi uma resposta a essa febre espiritual por mudanças significativas. A nossa esperança é que hoje a Maçonaria ainda tenha suficiente lastro de virtude para responder com eficiência ás atitudes que dela se exige nessa nova conjuntura.
João Anatalino Rodrigues
[1] Um dos episódios mais característicos desses conflitos foi o que opôs o Papa Bonifácio VIII e o rei da França, Filipe o Belo, e depois o sucessor desse Papa, Clemente V, que resultou inclusive na supressão da Ordem dos Templários e execução dos seus líderes, queimados como hereges. A Maçonaria, muito a propósito, iria utilizar esse episódio como sendo uma fonte das suas tradições.
[2] Entre estes intelectuais podemos citar Roger Bacon, Dante Alighieri e Petrarca. O primeiro destacou-se como filósofo naturalista e alquimista, precursor do método cientifico de observação dos fenómenos naturais. Dante é o autor do famoso poema “A Divina Comédia”, obra prima de simbolismo e carregada de conceitos e visões gnósticas. Petrarca foi um dos mais ácidos críticos da corrupção existente na Igreja Católica, sendo um dos maiores inspiradores do monge Martinho Lutero na sua rebelião contra o Vaticano. Não é sem razão as alusões e as invocações que alguns ritos maçónicos fazem ao trabalho desses intelectuais.
[3] Jean Palou – A Maçonaria Simbólica e Iniciática, São Paulo, 1964
[4] Esta visão foi muito bem formulada por Francês Yates nas suas excelentes obras , Giordano Bruno e a Tradição Hermética e o Iluminismo Rosacruz, ambas publicadas no Brasil pela Ed. Cultrix.
[5] As chamadas Old Charges, conjunto de manuscritos que relatam as práticas dos antigos profissionais de construção da Idade Média e início da Idade Moderna, os quais foram adaptados para os rituais praticados na Maçonaria moderna.
[6] Fulcanelli- O Mistério das Catedrais, Lisboa, 1956. René Guénon – Aperçus sur l’initiation – Paris 1956. Segundo estes autores, a arquitectura medieval, tal como a alquimia, seria uma espécie de prática ascética que além de buscar resultados práticos nos seus respectivos campos de actuação – a construção de edifícios sacros e a manipulação química dos minerais – proporcionaria ao seu operador uma forma de preparar os seus próprios espíritos para uma ascese (iluminação), que segundo a Igreja, só podia ser obtida através da prática da doutrina cristã, orientada pela Igreja católica.
[7] Os chamados Manifestos Rosacruzes (Fama Fraternitatis, 1614; Confessio Fraternitatis, 1615 e Núpcias Químicas de Christian Rosencreutz,1616) contribuíram muito para que os movimentos de tendência mística adquirissem essa aura de heresia e conspiração, pois atacavam com muita virulência a doutrina católica e pregavam transformações que misturavam temas de carácter religioso e político que incomodavam as autoridades civis e eclesiásticas. Vide, a este respeito, a excelente obra de Francis Yates, O Iluminismo Rosacruz, citada.
[8] Idem, O Iluminismo Rosacruz, citado.
[9] Que estão presentes na Maçonaria moderna, representada pelos ícones encontrados nos seus templos e no simbolismo da iniciação que se traduz por uma “jornada em busca da luz”.
[10] Francês Yates, op citado, pg. 241. Quer dizer: conforme o grau de energia, ou de “luz” que cada coisa, ou espécie concentra. Os antigos gnósticos identificavam nos planetas diferentes etapas de manifestação do Poder Criador, razão pela qual tudo na terra podia ser explicado nos termos dessa simbologia. Este é o fundamento filosófico da tradição da astrologia. Por consequência, obter iluminação, concentrar a “luz” dentro de si era aproximar-se o mais possível da divindade.
[11] Este também é um conceito defendido pelos cabalistas, segundo os quais “Deus é pressão”.
[12] Na Maçonaria esta tese exprime-se no lema “erguer templos à virtude e cavar masmorras ao vício.”
[13] Francês Yates – op citado pág. 255
[14] De acordo com a Cabala , o Inefável Nome de Deus (Tetragrammaton), tem quatro letras e a sua luz é portada por setenta e dois anjos (Semhamaphores). A multidão celeste, a partir desses portadores da luz divina, expandem-se progressivamente á uma razão aritmética de quatro por doze, formando uma multidão inumerável, que simbolicamente repete o mesmo processo pelo qual Deus constrói o mundo material. A Cabala, combinando, números e letras, dão ao iniciado nos seus mistérios todos os nomes de Deus a partir dessa inumerável multidão, até o primeiro e Inefável Nome, geratriz de todos os outros. A Maçonaria também trabalha com esses conceitos, partindo do princípio de que Deus é o “Grande Arquitecto do Universo” e que constrói o universo com os recursos da Geometria.
[15] Mathesis é a ciência da contemplação.
[16] Francês Yates – op citado, pág 26 – A Flauta Mágica é a ópera maçónica por excelência. Mozart a compôs a partir da influência que recebeu dos ritos maçónicos. As cerimónias de iniciação, as purificações pelo fogo e pela água, o misticismo do número três, temas explorados naquela ópera, são todos influenciados pelos ritos maçónicos, já que tanto Mozart quanto o compositor do libreto, Schikaneder, eram maçons.
Fonte: freemason.pt
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